sábado, 25 de maio de 2013

HISTÓRIA: Recordar Eric Hobsbawm

Quando Eric Hobsbwam morreu - passarão seis meses a 1 de junho! - não tive oportunidade para aqui escrever sobre quem considero o grande historiador do nosso tempo. Muito embora tenha visto um odioso texto do vasco pulido valente a denegri-lo, ainda assim outras obrigações impediram-me de redigir o respetivo texto de desagravo. E, no entanto, a admirável coerência do intelectual nascido em Alexandria em 9 de junho de 1917 bem o merecia.
Mas, porquê o afã dos medíocres vascos deste país pelo brilhantismo de Hobsbawm? Simplesmente, porque comunista toda a vida, ele jamais abjurou da sua posição ideológica, apesar dos muitos factos passíveis de o terem levado a imitar outros ex-camaradas, generosamente ouvidos em jornais e televisões por prestarem-se a desdizer tudo em quanto tinham acreditado. Enquanto estes últimos ganhavam protagonismo, que os exaltava depois de anos de frustrante anonimato, Hobsbawm prosseguiu com  a sua coerência, ciente de conseguir com o seu valor o reconhecimento de ser uma verdadeira autoridade nos temas por si estudados e divulgados.
E, no entanto, logo na sua primeira viagem a países do «campo socialista», a deceção foi profunda, nada consonante com a propaganda em que acreditara. No entanto, ele sentia-se parte de uma geração chegada ao comunismo enquanto combatentes de uma guerra omnipresente, de cuja defeção implicava a rendição ao desespero.
Na altura da invasão de Budapeste pelas tropas soviéticas, ainda se lhe conheceu uma posição pública de condenação, mas depressa entendeu qual seria a natureza de uma derrota dos comunistas húngaros nessa altura: a entrega do país a um novo regime fascista. E, de facto, tantos anos passados, o presente regime liderado por Victor Orban bem tende a demonstrá-lo a posteriori.
Desde então e no meio século seguinte ele nunca se rendeu, mantendo-se leal a uma opção de  juventude, até por sentir o fascismo sempre a rondar por perto os regimes democráticos.
O seu marxismo foi vivido com grande apreensão, sobretudo nos anos 50, quando vigorava um anticomunismo primário no topo das instituições britânicas. Mas ele teimou no estudo das razões do declínio marxista a partir dos anos 80, sobretudo com as circunstâncias conducentes à queda do muro de Berlim e à implosão do regime soviético.
Hobsbawm viria a identificar na falta de racionalidade dos intelectuais contemporâneos a razão para a crise do sistema de valores propostos por Karl Marx. Exatamente quando alguns dos principais inimigos do Ocidente conseguem mobilizar novos fiéis para as suas causas prosélitas baseados em idênticas formas de irracionalidade: o salafismo, o fundamentalismo.
O autor de «A Era dos Extremos» lamentava ver as novas gerações dissociarem-se da capacidade de sonharem na mudança da ordem social existente para melhor.
Para Hobsbawm fazer História não significa reunir alguns factos significativos, amontoá-los e utilizá-los para justificarem as políticas agora aprovadas pelas conjunturais maiorias políticas. E ele bem sabia do que falava por ter sido quem identificou as invenções das tradições enquanto ferramentas de eleição utilizadas pelos diversos regimes para procurarem justificar a sua existência e perdurarem.
Embora tenha praticamente parado a sua produção académica, sobretudo desde a sua biografia «Tempos Interessantes», os livros de Eric Hobsbawm bem merecem ser dados a conhecer às novas gerações de estudantes para perceberem melhor o que foram as lutas de classes durante o século XX.


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