Quando procuro curtas-metragens portuguesas tento encontrar os percursos iniciais de cineastas que, mais tarde ou mais cedo, iremos reencontrar em formatos mais ambiciosos.
Subsiste, é claro, o problema da falta de financiamento à produção, que quase foi reduzido a zero com o presente (des)governo. E, no entanto, Portugal teria, pelo clima e cenários, as condições ótimas para contar com uma indústria na área cinematográfica, capaz de criar obras com possibilidades de vingarem no importante mercado dos festivais (vide o «Tabu» de Miguel Gomes) e de garantir técnicos e atores experientes para integrarem ou complementarem equipas de produção internacionais. Com lucro óbvio para a balança de pagamentos...
A falta de visão das equipas da Cultura de passos coelho deitou quase tudo a perder, incluindo o papel primordial assumido pela RTP na exequibilização de muitos dos projetos lançados por quem quer fazer filmes em Portugal.
É nesse contexto que, olhando para o filme de Jorge Cremez - um cineasta já com larga experiência e merecedor de condições para criar a sua própria obra - constatamos a fluidez de uma história com crianças, que saem da sala de aula aonde se aborrecem e vão partir à descoberta da natureza num animado passeio pelo campo.
De vez em quando vêm à memória algumas possíveis referências («A Sombra do Caçador» de Charles Laughton ou «Piquenique em Hanging Rock» do Peter Weir), mas os vinte e um minutos são curtos para as possibilidades de um tal argumento. Ficamo-nos assim com a questão de tudo se ter tratado de uma fuga real ou imaginária. Com clara vantagem para a hipótese onírica...
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