sábado, 11 de maio de 2013

LIVRO: «Last Day on Earth» de David Vann


Depois de comprovar o fracasso do seu livro mais recente -  que vendeu apenas mil e trezentos exemplares nos Estados Unidos! - o escritor David Vann virou costas a um país que odeia e passou a viver entre a Turquia, a Nova Zelândia e a Inglaterra, ganhando a vida nesta última enquanto professor universitário.
Esse insucesso literário só veio comprovar aquilo, que descobriu enquanto inquiria os conhecidos e familiares de Steven Kazmierczak para dele traçar uma história verídica: que os norte-americanos vivem em permanente estado de negação relativamente ao problema das armas de fogo, apesar dos trinta mil suicídios e dos dez mil homicídios anuais com esse tipo de instrumento.
E, no entanto, apesar da crença generalizada em como os psicopatas são loucos isolados sem nada a ver com as pessoas comuns, todos poderíamos ser Stevens Kzamierczaks.
O último dia na Terra desse jovem ocorreu no Dia de São Valentim de 2008, quando entrou nas instalações da Northern Illinois University e abateu cinco pessoas e feriu vinte e uma antes de se suicidar.
O que interessa a David Vann é perceber quem era esse rapaz, que começa por pôr a dizer: Após o suicídio do meu pai, herdei todas as suas armas. Tinha 13 anos.
A partir daí acompanhamos o percurso de vida de um adolescente solitário, que se divertia a olhar quem passava em frente á casa através da mira de uma das suas espingardas. A passagem posterior pela universidade e pelo Exército só vão acrescentando os motivos para a sua deriva final.
Os veteranos são para Vann, autênticas bombas de relógio prontas a rebentar a prazo mais ou menos indefinido: existem hoje nos EUA , 1,2 milhões de antigos soldados carecidos de cuidados psiquiátricos e deles excluídos.
A catarse surge-lhes então na adesão às teses da extrema-direita em como o indivíduo deve sobrepor-se à sociedade. Daí a importância em se sentirem defendidos pelas armas pessoais, ao mesmo tempo que adoram tatuar-se, ver filmes de terror (Kazmierczak adorava os filmes da série «Saw» em que um sádico torturava sucessivas vítimas indefesas) ou ouvir a música de Marilyn Mason («Last day on Earth» é precisamente o título de uma das suas canções!).
Em definitivo, David Vann considera estúpidos os seus compatriotas, incapazes de serem racionais e verem a realidade dos factos. E daí escusarem-se a pôr em causa tudo quanto tenha a ver com os seus tabus relativamente à religião, ao exército ou ao lobby das armas.

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