E, qual Jesus morto à sexta-feira e ao domingo ressuscitado, assim se comportou paulo portas na sua intervenção de suposto distanciamento em relação às políticas do governo aonde faz figura de ministro de estado e de presunção da função de provedor dos indignados pensionistas.
Que o exercício já não ilude quase ninguém mostram-no as reações de diversos comentadores, que destacam a sua duplicidade incoerente. É o caso de José Vítor Malheiros no “Público”: Numa única intervenção, Paulo Portas conseguiu ser ministro da coligação mas presidente do CDS, Governo mas oposição, troikista mas patriota, estadista mas Paulinho das feiras, austeritário mas desenvolvimentista, falar para dentro e para fora do partido, para dentro e para fora do país, reforçar a sua posição neste Governo e preparar o seu papel no próximo, elogiar Pedro Passos Coelho e mostrar-lhe que segura o único fio que o segura, ser sensato mas ameaçador, firme mas negociador, cortês mas feroz, tudo sem piscar um olho e quase sem um tremor de voz.
Em vez de dúplice, Paulo Ferreira prefere conotar paulo portas com o mais puro ilusionismo, lembrando para tal uma oportuna referência histórica na sua crónica no “Jornal de Notícias”: É puro ilusionismo político aquilo a que estamos a assistir. Passos e Portas são os novos escapistas da política portuguesa. O líder centrista é mesmo uma espécie de Houdini, tão impressionantes são as suas habilidades.
O famoso mágico morreu quando se preparava para exibir a sua incrível resistência torácica mergulhando numa caixa de água sem respirar. Um boxeur amador foi aos bastidores e destrui-lhe o apêndice com dois socos.
Aqui, a coisa está invertida: são os escapistas que não param de surrar a assistência. E, como se isso não lhes bastasse, ainda fazem números de circo para amenizar a dor do público. Que, como se sabe, tem imensa vontade de rir.
A versão aparente é a de um (des)governo em decomposição e a contradizer-se na praça pública: O Governo anda à deriva, fala a duas vozes e insiste em brincar, uma vez mais, com a nossa vida. E com especial crueldade com a vida dos mais frágeis: os reformados e pensionistas. É o que diz Alfredo Leite no mesmo “Jornal de Notícias”.
Mas, e se tudo isto não é senão mais um truque congeminado pelas eminências pardas do (des)governo, interessadas em reeditar o velho número do polícia bom e do polícia mau? É o que sugere Miguel Abrantes no blogue “Câmara Corporativa”: Como já se sabia, o número de ilusionismo de Paulo Portas no domingo foi combinado com Vítor Gaspar e Passos Coelho. Não significa isto que a coesão do Governo vá de vento em popa: horas antes de o ilusionista subir ao palco, Gaspar desmontou os truques que os espectadores iriam ver.
Neste momento o que mais interessa ao (des)governo é levar por diante a sua estratégia contra os seus inimigos de estimação:. Como diz Marco Capitão Ferreira no “Diário Económico” bem pode Paulo Portas gastar meia-hora a tentar justificar-se e a simular divergências com um Governo que o CDS integra e suporta no Parlamento. A fixação com o empobrecimento dos pensionistas, dos funcionários públicos e, em geral, dos trabalhadores enquanto tal ficará como a marca central da ideologia deste Governo. O resto é poeira que nos atiram para os olhos. Se deixarmos.
Daí que a ideia do consenso ou da negociação não tenha qualquer cabimento para passos coelho ou vítor gaspar: O Governo não está interessado em nenhuma estratégia negocial, procura apenas uma caução póstuma dos parceiros sociais para a sua estratégia suicida. é o que conclui Pedro Adão e Silva no seu próprio blogue.
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