Não me assumindo como grande apreciador de livros de guerra, abro, porém, algumas exceções para aqueles aonde é exaltado o heroísmo de quem se mostrou com capacidades em se exceder em prol de grandes causas sobrepondo-se ao egoísmo natural das suas distintas individualidades. Por isso mesmo algumas das exceções mais frequentes àquela regra situam-se na Guerra Civil de Espanha ou nas batalhas de Leninegrado e Estalinegrado.
Num sentido e no seu oposto, esses cenários de horror determinaram a sociedade europeia da segunda metade do século XX até a queda do muro de Berlim abrir espaço para esta fase de capitalismo selvagem no seu máximo “esplendor”.
Peguei em «Os Órgãos de Estaline» do alemão Gert Ledig com a curiosidade de encontrar muito do que já conhecemos sobre o sofrimento vivido em torno da agora rebatizada São Petersburgo. E convenhamos que não saí desta leitura com outra noção que não fosse a da revisão da matéria dada. Muito embora comece logo por me incomodar o facto de haver uma igualização dos padecimentos de alemães e de russos como se os primeiros não fossem os agressores e os segundos os agredidos.
É precisamente esta ambiguidade que me faz tomar especiais cuidados perante todos os discursos pacifistas, porque sobram evidências de subsistirem guerras justas e outras perfeitamente injustas. Como lembra Brecht considera-se mais facilmente violento o rio, que alaga para além das suas margens do que estas que o comprimem.
Ora vivemos num tempo em que nós - a generalidade das vítimas do FMI, do BCE, da Comissão Europeia e de quem eles representam nos seus interesses gananciosos! - nos sentimos violentamente comprimidos nas margens definidas por esta política de austeridade custe o que custar. Quem pode acusar tal caudal em progressivo aumento de tensão em galgar as margens e mostrar o que é uma justa e indignada violência?
No demais o romance é o que dele se projeta desde início: muito sangue, muito corpo esventrado, gritos e choros por todo o lado com uma banda sonora complementada por tiros e rajadas sem fim...
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