Em 24 de maio, o The Wall Street Journal publicava um artigo de Christopher Bray, que mostra como sendo a política ruim para os negócios, os donos dos estúdios de Hollywood dos anos 30 exigiram complacência para com os fascistas europeus para quem pretendiam continuar a vender filmes. Com os resultados, que se constatariam no final dessa mesma década.
Bastaria terem estado a 5 de dezembro de 1930 na apresentação do filme de Lewis Milestone «A Oeste Nada de Novo» no Berlim Mozart Hall para testemunharem o boicote bem sucedido de um bando de arruaceiros, que lançaram bombas de mau cheiro e pó de espirrar para a assistência e libertaram ratos assustados pelas coxias.
Os nazis em causa, manipulados por Joseph Goebbels, consideraram que o filme baseado no conhecido romance de Erich Maria Remarque era propaganda pacifista a que se deveria assistir a gritar continuamente: Judenfilm! Judenfilm!
No seu diário o ideólogo do nazismo entusiasmava-se por ter conseguido transformar a sessão num caos total com a polícia a revelar-se impotente para controlar tais distúrbios. Que se repetiriam noutros cinemas por toda a Alemanha até o Conselho Supremo de Censura decretar que o filme punha em perigo a reputação do país e deveria por isso ser proibido.
Iniciava-se um clima de intimidação por toda a indústria cinematográfica alemã, que era então uma das mais pujantes a nível mundial, obrigando ao exílio de um conjunto de atores e realizadores de reconhecido valor, logo recebidos de braços abertos pela indústria de Hollywood: Peter Lorre, Hedy Lamarr, Paul Henreid, Billy Wilder, Fritz Lang, Max Ophuls...
Mas atrás deles também os ideais nazis os perseguiram até ali conseguindo ganhar inquietantes raízes junto dos estúdios: é essa a tese de Thomas Doherty, que acaba de publicar uma análise densa sobre a História do Cinema desde a ascensão de Hitler à condição de chanceler do Reich até ao início da II Guerra Mundial. E a primeira forma como essa influência se manifestou foi pelo quase total silêncio quanto aos acontecimentos então em curso por toda a Europa, sob o argumento de que Hollywood execrava o tratamento de temas políticos na tela. Só na iminência da guerra é que a Warner Bros lançou «Confessions of a Nazi Spy» de Anatole Litvak.
E Chaplin só consegue exibir «O Ditador» no final de 1940, quando a guerra já durava há mais de um ano.
Mas, se virar os olhares dos horrores do fascismo era uma opção discutível, pior ainda era a de se verificarem algumas aproximações perigosas a alguns dos ditadores.
Mussolini, por exemplo, era um fã incondicional de «Laurel e Hardy» e Hal Roach convidou-lhe o filho, Vittorio, para sua casa, a fim de aprender produção cinematográfica. Mesmo que a hospedagem só tenha durado uma semana.
É por essa altura que Leni Riefenstahl chega à Califórnia a ponderar na possibilidade de o virtuosismo de «Olympia» lhe abrirem as portas. É que essa obra-prima dedicada aos Jogos Olímpicos de 1936, caracterizada pelos seus planos inovadores e composições simétricas, possuía requisitos por ela congeminados como potenciadores do seu enriquecimento nos Estados Unidos. Mas, felizmente, teve como interlocutor o foragido Billy Wilder, que a informou do único tema passível de interessar aos norte-americanos: a autópsia do cérebro do seu namorado (na época vigoravam muitos rumores quanto a uma ligação da cineasta com Hitler!).
Recheado de informações, que já pouco nos dirão, por advirem de filmes totalmente desconhecidos, o livro de Doherty dificilmente cruzará o Atlântico para este lado, mas possui um inegável interesse de como as democracias deixarão avançar as ditaduras europeias até que a guerra se tornasse inevitável com toda a sua multiplicação de tragédias pessoais.
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