quarta-feira, 10 de abril de 2013

IDEIAS: ao princípio éramos donos de nós mesmos?


Porque vivemos em sociedade? Será a sociedade uma ideia progressista ou retrógrada? Somos seres únicos, ávidos da nossa identidade, ou constituímos seres sociais, em que mais do que nós próprios, vemo-nos moldados pelas nossas circunstâncias?
Os Gregos imaginavam que, nos primórdios da Humanidade, os homens tinham vivido um período de incomparável felicidade e prosperidade no Reino de Cronos, pai de Zeus.
A Natureza era pródiga e não existia margem para ódios ou guerras.
Platão fala disso na «Política», evocando esse tempo ideal em que os homens estavam poupados ao trabalho e às demais preocupações engendradas pela vida na sociedade.
Vivendo na nudez descomplexada, os homens eram as ovelhas de um pastor divino, animais apolíticos perfeitamente adaptados a tudo quanto os rodeava.
Existe uma semelhança entre essa conceção grega e os versículos do Génesis bíblico dedicados à criação dos jardins do Éden. Só que, em vez da expulsão drástica de Adão e Eva do Paraíso, os gregos e os romanos preferiram considerar uma lenta degradação desse estado de felicidade original: à Idade do Ouro, sucedeu-se a da Prata. Zeus substituiu-se a Cronos na condução dos destinos humanos forçando-os a trabalhar a terra e a pôr em causa essa ausência de ideia de propriedade, que vigorara até então.
A Prata cede depois espaço á idade do Ferro. É quando surgem as doenças, as guerras, as fomes…
A felicidade dos primeiros tempos dá lugar ao medo e à saudade do passado encarado com nostálgica saudade.
No seu «Discurso Sobre as Ciências e as Artes», Jean Jacques Rousseau exprime essa nostalgia, enfatizando a idealização da Natureza em contraponto com a ideia de Progresso tão enaltecida pelos filósofos iluministas. Logo no primeiro dos seus discursos, Rousseau aborda o tema da decadência, concluindo que foi o desenvolvimento das sociedades a implicar esse afastamento progressivo do Homem em relação à Mãe Natureza. Por isso criticava esses seus contemporâneos tão apostados em usufruir dos benefícios da Civilização, já que os fazia surdos aos avisos da Natureza.
Rousseau acreditava, pois, nesse estado natural anterior ao estado civilizacional, quando os homens vagueavam felizes pela natureza, não trabalhando nem refletindo, ignorando distinções entre o Bem e o Mal e em perfeita harmonia com o que os rodeava.
Ignorante, inocente, mudo, o homem-criança comunicava com a Mãe-natureza e não sabia comunicar com os seus semelhantes. Não existia a ideia de família nem associação de qualquer espécie. Mas para que seriam elas necessárias se a natureza de tudo lhes providenciava.
Ao criarem a sociedade os homens associam-se para corresponderem a necessidades materiais, que a interdependência só irá avolumar.
O «Estado Natural» é uma ficção que serve para aferir o estado de corrupção das sociedades modernas. Corrupção que resulta das desigualdades existentes entre os homens. A sociedade obriga os homens à comparação. A associação é a confissão da fraqueza humana. Aquela que faz os homens dependerem uns dos outros. 

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