No quase sempre interessante “Inferno” do canal Q (http://videos.sapo.pt/E6SjLg7nzcZMl1EKuUZW), Pedro Vieira entrevistou o escritor Mário de Carvalho e questionou-o quanto ao facto de ele ver os seus recém-editados livros a partilharem os escaparates das livrarias com muitos outros com salazar na capa.
Carvalho revelou não estranhar este interesse singular pela mitificação de tal período da História portuguesa, com leitores num tipo de portugueses com aquilo que designou como «memória equivocada». Porque vêem-no como uma espécie de idade do ouro, quando, afinal, quem efetivamente o viveu, o sabe caracterizado sobretudo pela miséria e pela degradação. E o paradoxal é saber-se que os saudosistas desse passado são aqueles que, se então vivessem, mais facilmente acabariam na mitra ou em hospitais sem condições. Hoje são eles os que mais facilmente dão o voto aos que acabam por se revelar os seus predadores.
Mas a entrevista não vale apenas por esse momento: vale a pena ouvir o escritor discorrer sobre a sua surpresa pela veneração com que são ouvidos merceeiros bem sucedidos, que, em vez de discorrerem sobre a qualidade dos seus produtos ou a higiene das suas prateleiras de hipermercados, se julgam com legitimidade para perorarem sobre os destinos do país!
Sem comentários:
Enviar um comentário