quarta-feira, 24 de abril de 2013

POLÍTICA: temos assim tão brandos costumes?


Um dos mistérios para os quais não encontramos fácil solução tem a ver a suposta confirmação dos portugueses enquanto povo de brandos costumes perante todas as agressões cometidas pelo (des)governo. Fizeram-se grandes manifestações a 15 de setembro ou a 2 de março, mas qual o resultado de tais demonstrações de repúdio quanto às políticas implementadas?
Embora não explique totalmente essa abulia, a propriedade das televisões e dos jornais contribuirá seriamente para tal estado das coisas. Senão vejamos: quando se trata de fazer comentário político as televisões e os jornais quase sempre optam por ex-políticos de direita, adornando o ramalhete com algumas flores vistosas (Louçã, Sócrates) mas em número esmagadoramente inferior àqueles. Ou, em alternativa, selecionam politólogos e jornalistas mais consonantes com os objetivos de passos coelho e sua corte.
Exceção feita a alguns dos intervenientes da «Quadratura do Círculo» ou do «Eixo do Mal» e a mais umas quantas colaborações esporádicas de Pedro Adão e Silva, de André Freire ou de Boaventura Sousa Santos, quase sempre temos de ouvir inenarráveis defensores do indefensável como o são os medinas carreiras, os alexandres patrícios gouveias ou os camilos lourenços e seus sucedâneos mais ou menos alinhados pela mesma bitola.
Resultado: a contínua insinuação ou proclamação despudorada da impreparação do Partido Socialista para constituir alternativa e a pressão contínua para que se submeta à condição de quem preencha o formulário dos «consensos» pretendidos por passos coelho ou por cavaco silva. Quanto às demais alternativas de esquerda - comunista ou bloquista - nem sequer são tidas em conta, como se constituíssem aberrações sem sentido.
Temos, pois, uma autêntica conjura dos belmiros, dos paulos fernandes, dos balsemões e dos nebulosos acionistas angolanos para convencerem os portugueses da inevitabilidade desta criminosa política de austeridade.
Lamentavelmente, essas vozes  consonantes, que repetem a mesma melodia até á exaustão infiltra-se no imaginário coletivo com a lógica goebbelsiana de quanto se promove à verdade a mentira mil vezes repetida. E é assim que ela surge depois papagueada por inocentes altifalantes nos fóruns das rádios e televisões e expandidas nos transportes e nos locais de trabalho.
Esta contínua manipulação da opinião pública deverá ser tida em conta, quando a esquerda voltar ao poder. Porque, mais do que defender o serviço público de televisão ou conhecer oficialmente os acionistas dos meios de comunicação, um poder efetivamente democrático terá de cuidar da promoção de uma informação objetiva, pluralista e sem exclusões de quem supostamente não integra o mistificador «arco da governação».
A política de um novo governo eleito para corrigir os danos causados pelo atual não poderá, pois, secundarizar o audiovisual como setor não prioritário. É que, em Itália, foi mediante o seu controlo que berlusconi se tornou em quem foi e é: uma permanente ameaça para a democracia. E que, em Portugal, o (des)governo não está tão desmascarado na sua incompetência quanto mereceria estar!

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