quarta-feira, 24 de abril de 2013

Livro: «Um Escritor Confessa-se» de Aquilino Ribeiro (5)


No próximo mês passam cinquenta anos sobre a morte de Aquilino Ribeiro, que ocorreu em 27 de maio de 1963. Razão bastante para revisitarmos a sua biografia com a ajuda da autobiografia «Um Escritor Confessa-se» de que se segue aqui a quinta abordagem.

Na página 89 da edição da Bertrand de junho de 1974, que nos vem servindo de guião para esta evocação do grande mestre beirão, encontramos a descrição do seu progressivo afastamento da religião, quando ainda frequentava o seminário de Beja.
Homem de princípios, o escritor via os valores bíblicos continuamente desrespeitados por quem mais responsabilidades tinha enquanto seus supostos guardiões. Ademais sobrava uma postura hedonista, que não se ajustava com o internato numa instituição tão lúgubre quanto aquela aonde se via enclausurado:
Ao fim e ao cabo, a minha descristianização como se operava ? Em verdade era obra lenta e gradativa, de que me seria impossível estabelecer hoje a sucessão de pequenos fenómenos de consciência. O facto de ter sido sempre um tíbio e ralaço praticante dos mandamentos da Igreja não significava que fosse menos profundamente católico. Eu, como toda a gente - e suponho que ainda hoje muita gente boa - , nunca submetera a revisão, por uma questão de respeito, se não era apenas de inércia, esta espécie de feudo subjectivo a que nos encontramos subordinados por herança ou tradição.
Não existe, pois, nenhuma drama íntimo nessa opção pela vida laica. O que se passava fora das paredes do seminário era demasiado estimulante para que Aquilino se conformasse com o seu alheamento. E está pronto para partir á descoberta de um mundo, que estava em tão acelerada transformação: o novo século acabara de começar, mas prometia mexer com todos os conceitos, que só os padres e os monárquicos quereriam cristalizar nas suas toscas certezas.
Não tardaremos a ver Aquilino envolvido nas grandes lutas pela mudança de todo esse cadaveroso reino!

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