sexta-feira, 5 de abril de 2013

POLÍTICA: relvas arrisca-se a acabar mal!


De todas as muitas opções, que o cinema contou para abordar o tema do arrivismo, a adaptação de Stanley Kubrick de um romance de Thackeray - “Barry Lyndon” - é a minha preferida. Não só pela banda sonora, que conta com a célebre Sarabande de Handel, mas também pela forma como assistimos à ascensão e queda de um ambicioso e talentoso personagem.
Foi em tal filme, que pensei, quando assisti ao surpreendente discurso de despedida de miguel relvas - uma enésima versão do desesperado “amem-me” de quem se sente execrado! -  e às peças televisivas de evocação do seu calvário nas últimas semanas. E foi espantoso constatar que, a exemplo do sucedido  com o personagem de Ryan O’Neil no filme do realizador de «2001 Odisseia no Espaço», foi inevitável sentir alguma compaixão pela criatura ainda há dias sujeita à minha mais veemente condenação. Porque as cenas de humilhação de alguém em público - mesmo tendo-se em conta o papel nefasto nas nossas vidas! - nunca é bonito!
O antigo ministro socialista Correia de Campos haveria ainda ontem de expressar algo de semelhante num comentário televisivo à notícia em causa: na hora de despedida sentimos alguma complacência com os pecados alheios!
Mas, voltando a miguel relvas, também foi inevitável ponderar no futuro que o espera. Nas redes sociais havia quem aventasse os perigos dessa passagem para a clandestinidade: pelo menos, enquanto ministro, ele andaria mais ou menos vigiado, enquanto agora sentir-se-ia mais à vontade para voltar a agir na sombra.
Só que as circunstâncias em que ele regressa à condição de ex-governante é substancialmente diferente daquela em que se assistira ao da vida empresarial depois da passagem pelo (des)governo de durão barroso: enquanto então saía com a expetativa de voltar, a forma como agora o faz deixa-lhe escassa margem de manobra para tal por muito que levemos em conta a memória curta dos portugueses.
É que  na pretérita saída de um cargo público, constituía valor garantido para quem o via como potencial marioneta de defesa dos seus interesses privados.  Os arrivistas da estirpe dos relvas e dos passos coelhos são muito apreciados por quem detém o capital para ser seu porta-voz em parlamentos e ministérios. Só que, como diz a sabedoria popular, quem muito sobe, também de muito alto cai.
Ora, a queda de relvas foi de muito alto: quando chegou ao governo, equiparava-se-o eao primeiro-ministro. E ele não hesitou em utilizar esse poder, quando se tratou de sanear jornalistas, quase entregar a televisão pública aos amigos angolanos ou a TAP ao muito suspeito efremovich.
A queda começa com a súbita noção dos limites do seu poder e não tanto por causa do caso da licenciatura na Lusófona. De repente começou-se a compreender que gaspar tinha muito mais poder do que o pífio ministro dos assuntos par(a)lamentares.
Grandolado sucessivamente, relvas tornava-se cada vez mais ridículo e um estorvo à seriedade com que a direita se pretende mostrar aos portugueses. Para um paulo portas o incómodo não podia ser mais evidente, ainda que o mandasse dizer por interpostas figuras do seu partido. E, numa altura em que tudo se conjuga para a coligação se sentir cada vez mais ameaçada nas suas próprias fundações - com a decisão do Tribunal Constitucional, com os resultados cada vez mais catastróficos da execução orçamental e com a aproximação do 25 de abril enquanto ocasião oportuna para a expressão do protesto público - relvas já não tinha mais condições para ser tolerado pelos pares.
Agora, perdido o título de doutor, e apresentado como o darth vader de uma força em perda de influência, quem lhe dará a mão? Os angolanos, os amigos brasileiros? Para quê se ele se lhes tornou imprestável para os seus negócios?
A exemplo do personagem do filme de Kubrick, relvas arrisca-se a acabar mal...

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