quinta-feira, 4 de abril de 2013

LIVRO: «Fractured Times: Culture and Society in the 20th Century» de Eric Hobsbawm


A minha devoção a Eric Hobsbawm foi sempre tanta que quando se tratou de criar o meu primeiro blogue dei-lhe como nome o título da sua autobiografia: “Tempos Interessantes”. É que o historiador marxista inglês, durante muitos anos pertencente ao Partido Comunista britânico, justifica plenamente a opinião do seu homólogo norte-americano David Landes, quando este dizia sair-se de um dos seus livros como se tivéssemos acabado uma partida de squash: exaustos, mas revigorados.
«The Age of Revolution», «The Age of Extremes e outros títulos por si assinados são sempre entusiasmantes não só pela riqueza da erudição neles contida, mas, sobretudo, pela forma como nos transmitiu os resultados do porfiado estudo da Europa desde a Revolução Francesa de 1789 até à queda do Muro de Berlim dois séculos depois. São dele conceitos que depois se generalizaram: a “revolução dupla” (em que juntou a Francesa com a Industrial enquanto eventos fundadores dos tempos modernos), a “invenção da tradição”, “os rebeldes primitivos”, o “banditismo social”, o “longo século XIX” (porque o considerava entre 1789 e 1914) e o “curto século XX” (porque durara apenas entre 1914 e 1989).
Outras teses muito suas , que surgem no livro póstumo de ensaios acabado de publicar em Inglaterra: “as culturas não se limitam a ser supermercados aonde nos possamos ir abastecer de acordo com os nossos gostos pessoais” ou “a democratização das políticas tornou o poder num espetáculo teatral”.
Um dos aspetos curiosos a constatar nestes textos acabados de divulgar é a transição do otimismo típico de um arreigado marxista para um pessimismo cada vez mais interiorizado, nomeadamente quando julga a música clássica, e as artes em geral, condenadas pelos mecanismos das forças do mercado e o quanto isso poderá traduzir numa espécie de desintegração da experiência cultural. O que nos poderá levar a crer, que o autor terá passado de um extremo para outro, igualmente desproporcionado.
Como sempre em Hobsbawm, a leitura agora prometida parecer-nos-á decerto estimulante e motivadora de reflexões consistentes quanto à interpretação dos tempos interessantes, em que vivemos.


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