Amanhã iremos visitar esta exposição na Gulbenkian para encetarmos um projeto de aprofundamento na compreensão da sua obra.
Que me lembre não a contacto desde que, há já mais de uma dúzia de anos, li «Perto do Coração Selvagem», quando andava pelos antípodas. Talvez porque as minhas idiossincrasias de então eram muito diversas das preocupações íntimas da autora. Talvez porque a sua escrita exija maior atenção do que a azáfama de então permitiria.
Esta iniciativa permite-nos retomar o contacto com aquela que se tornou numa autora de culto entre nós, sobretudo desde que a Relógio de Água se abalançou à publicação da sua obra. E que foi, entretanto, objeto de um dossiê do «JL», donde vale a pena extrair dois trechos autobiográficos da autora.
O primeiro refere-se á sua descoberta da literatura: quando eu comecei a ler, lia muito livro de histórias. Eu pensava que o livro era uma coisa que nasce. Eu não sabia que era coisa que se escrevia. Quando eu soube que livro tinha autor, eu disse: “Também quero ser autor!”.
O segundo tem a ver com a adesão incondicional à língua portuguesa: esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter subtilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
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