segunda-feira, 29 de abril de 2013

Indie 2013: «Campo de Flamingos sem Flamingos» de André Príncipe

Uma viagem de “circum-navegação” pelas fronteiras territoriais portuguesas – marítima e raia – e algumas ilhas.
Uma viagem pelas fronteiras continentais, pontuada por encontros com pessoas e animais, assim como um levantamento da paisagem natural e construída.
Utilizando o próprio mapa de Portugal como guião, o filme começa no local onde vai acabar. Retratos de pessoas, topografias da paisagem, cenas de viagem e estrada, encontros com algumas das espécies de animais em vias de extinção. 
Imagens nocturnas e diurnas, urbanas e rurais realizadas durante um período dum ano, cobrindo as quatros estações, vão tentar mapear a ideia do Portugal Real, na era pós-internet.
Uma ficção ancorada no documentário.
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O que conheço melhor é a sensação de não conhecer realmente as coisas e gostaria de fazer um filme sobre o que conheço melhor.
O filme será um travelogue que descreve uma viagem de “circum-navegação” pelas fronteiras territoriais portuguesas – marítima e raia – e algumas ilhas.
Durante um período dum ano, em diferentes estações, seguir o desenho descrito pelas fronteiras portuguesas e fazer um levantamento da paisagem, pessoas e animais que nela habitam e comparar os resultados dessa amostra com a ideia que temos do país.
O facto de Portugal ter as mesmas fronteiras há, mais ou menos, oitocentos anos, acentua a ideia do território nacional como algo de definitivo, imutável e intemporal como o vento ou o mar.
Na verdade quando não está a seguir o curso dum rio, a raia é aleatória e ás vezes até absurda, sem qualquer determinação geográfica ou geológica, apenas razões culturais e políticas, uma sucessão de marcos fronteiriços que pontuam um paisagem única e uniforme.
A ideia dum país a partir da definição territorial desse país; se a fronteira não faz sentido, o país faz sentido? Qual?
Gostaria de fazer um levantamento o mais completo possível do território, numa atitude similar ás dos exploradores do séc. XIX que se aventuravam por territórios desconhecidos.
Ferramentas como o Google Earth, etc ajudam-nos a ter uma ideia precisa e completa do mundo enquanto espaço físico.
O mundo é cada vez mais curto em termos de distâncias, mas cada vez mais vasto em termos psicológicos.
O filme seria uma tentativa de mapear essa paisagem psicológica e emocional dentro dum dado limite - as fronteiras portuguesas. Como ir ao sótão de casa e descobrir um velho álbum de fotografias de família, cheio de pessoas conhecidas em locais estranhos, e pessoas desconhecidas em locais familiares.
Uma sensação simultânea de familiaridade e estranheza, que nos leva a repensar as ideias que temos sobre aquilo que julgamos conhecer – o nosso país. - Os cinco elementos Japoneses são, por ordem de importância - Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio.
Pessoas e animais estão lado a lado num jogo muito antigo. Há o dia e a noite. Tudo existe simultaneamente. Uma viagem pela fronteiras portuguesas. “Ordenar segredos do mundo visível”. [André Príncipe]
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Precisei dos textos acima - colhidos no site «Cinema Português» - para tentar encontrar alguma justificação para gostar do filme do André Príncipe exibido por duas vezes no Indie deste ano e já depois de ter saído frustrado da conferência pós-exibição em que não consegui tal estímulo.
Pode ser muito discutível a minha posição, mas não gostei nada deste filme. Achei-o profundamente entediante e sem um fio condutor, que explicitasse um conceito coerente.
No registo das intenções sobre o que pretendia fazer, André Príncipe explicita uma ideia de fronteiras e de cinco elementos da natureza segundo a cultura japonesa.
Infelizmente só ficou para mim o quinto elemento dessa cosmogonia: o vazio!

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