quinta-feira, 18 de abril de 2013

IDEIAS: a facilidade da escrita e o futuro do capitalismo


Com o atraso de quase uma semana dediquei agora a devida atenção ao suplemento W do «Negócios» de 12 de abril e encontrei aí alguns apontamentos interessantes. Por exemplo, na entrevista de Celso Filipe ao escritor Mário de Carvalho, que critica a aparente facilidade com que alguns escrevinhadores confessam dedicar-se à atividade literária, enchendo os escaparates das filas de livros dos hipermercados com a sua prosa descuidada: Há que reprimir essa facilidade. As pessoas merecem outra coisa. Trata-se, no fundo, de criação artística. É necessário não estarmos a repetirmo-nos, não estar a repetir os outros, estarmos a ser, de facto, originais, únicos e a acrescentar alguma coisa à literatura. Há quem fique muito escandalizado com isso e pense que é muita arrogância. Mas eu penso que, quando escrevemos um livro temos , temos de acrescentar alguma coisa àquilo que já existe. Não vale a pena estar a chover no molhado ou a repetir processos.
O problema é que muitos leitores estão tão habituados à má literatura, que nunca conseguirão encontrar o merecido encantamento propiciado por uma obra de características efetivamente artísticas!
Por seu lado o filósofo Gilles Lipovetsky, entrevistado por Eva Gaspar, faz uma defesa intransigente do capitalismo, cuja continuidade não põe em causa. As suas palavras são absolutamente contrárias às minhas convicções : Há vícios no sistema capitalista que é preciso corrigir. Mas a crise europeia n~~ao é uma crise do capitalismo. É uma crise da política. É uma crise dos Estados. É uma crise da dívida dos Estados. São os Estados que estão sobreendividados.
E se dúvidas ainda se pudessem ter sobre as suas conceções conservadoras, Lipovetsky dá a receita para o seu próprio país: não vamos sobreviver sem liberalização. No caso da França, por exemplo, o Estado vai ter de liberalizar mais para fomentar a iniciativa, porque é o mercado, é a oferta, que comanda.
Mas, quando fala dos comportamentos perante o que está disponível para consumir, o seu diagnóstico é pertinente: A Internet aumentou enormemente  a oferta, deu-nos a possibilidade de ouvir música de todo o mundo, de ver em casa um filme que dificilmente seria passado nas salas de cinema, de comer alimentos que nem sequer sabíamos existir.
Contudo, continuamos a viver numa sociedade de best sellers: a oferta é muito diversa, mas o consumo é muito concentrado. No cinema, nas editoras de livros e de música, é um punhado de empresas que fica com o essencial do volume global de negócios. Vivemos numa situação verdadeiramente paradoxal: nunca houve tanta oferta mas, na realidade, o leque das escolhas que se fazem acaba por ser muitíssimo reduzido.
Paradoxalmente as opiniões do filósofo francês acabam por encontrar elos de ligação com os do autor de «Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto».


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