Afinal andamos nós a escandalizarmo-nos com os contornos ditatoriais do (des)governo húngaro, que não mostra qualquer escrúpulo em sequer compor uma fachada democrática para os seus desmandos constitucionais, e temos o despacho de vítor gaspar a mostrar que Budapeste fica aqui mesmo ao lado e que os tiques do outro vítor também aqui suscitam inspiração. Como escreveu o reitor da Universidade de Lisboa o Governo adopta a política do “quanto pior, melhor”.
O que esse despacho revela é uma prática, que só tem semelhanças com os tempos mais perturbados do salazarismo, quando o ditador de Santa Comba sentia o seu odioso projeto em perigo e obrigava todos os seus ministros a esperarem pelo seu ámen para tudo quanto ousassem empreender.
Não deixa de ser paradoxal, que me veja a subscrever por inteiro as palavras de Pacheco Pereira, alguém que considerava situado na trincheira oposta à da barricada ideológica donde observo este campo de batalha em que se converteu a Europa: O governo entrou numa guerra institucional dentro do estado, em colaboração com a troika, para abrir caminho a políticas de duvidosa legalidade e legitimidade baseadas no relatório que fez em conjunto com o FMI. Não conheço nenhum motivo mais forte e justificado para a dissolução da Assembleia da República por parte do Presidente do que este acto revanchista contra os portugueses.' O que o bloguista do «Abrupto» reconhece é a evidência da traição de um governo, que teima em fazer o papel de polícia de uma troika decidida a reduzir os portugueses a um povo humilhado, miserável, ignorante e servil.
Temos de reconhecer que os contornos em que este cerco aos portugueses está a assumir uma tal dimensão, que se justificam respostas diferentes das que têm existido. Correspondendo ao conselho de Mário Soares, o secretário-geral do PS deverá resistir firmemente aos cantos de sereia com que os banqueiros (incluindo Luís Amado) o queiram empurrar para os braços de passos coelho e de paulo portas. E mais: pessoalmente desejaria vê-lo a convidar Jerónimo de Sousa e a dupla Catarina Martins/ João Semedo para uma cimeira sem outro ponto de ordem de trabalhos, que não seja o estabelecimento de uma vigorosa resposta de esquerda à ofensiva da direita. E que, no fim de tal reunião, saia uma proposta conjunta para uma enorme manifestação nacional no dia 25 de abril.
Por uma vez na vida gostaria que António José Seguro me surpreendesse pela positiva!
É que, como escreve Daniel Oliveira no «Arrastão», desta vez, Vítor Gaspar e Passos Coelho ultrapassaram todas as marcas. Se não houver uma intervenção de Cavaco Silva quer dizer que deixámos de viver num Estado Democrático e estamos sujeitos a todas as arbitrariedades que a inacreditável birra do governo nos quiser impor. Não resta outra solução se não correr imediatamente com esta gente do poder. Quem é incapaz de aceitar uma decisão de um tribunal e usa o poder de Estado para se vingar do País não pode continuar a ocupar cargos governativos.
Correr, de facto, com esta gente do poder é uma urgência, que não admite tibiezas. Até porque, na sua aparente manifestação de força, a seita de fanáticos ainda crismados de governo, está a revelar o desnorte, a fraqueza, o desespero em que se vê metido. E é a altura certa para os apanhar em desequilíbrio e empurra-los de vez para o anonimato donde nunca deveriam ter emergido.
Como escreve Viriato Soromenho Marques no «Diário de Notícias» Portugal está mais fraco para resistir sozinho ao colete-de-forças de Berlim. As barreiras estão a ser levantadas no sistema financeiro para tornar o núcleo duro teutónico imune a um país rebelde. O véu caiu. Portugal é uma satrapia de Berlim. O que está em causa não é derrubar uma coligação, mas reconquistar a liberdade nacional. Tudo está em aberto. Desde uma viragem federal redentora até ao desmoronamento da Zona Euro, e o doloroso regresso às derivas estratégicas e conflitos tribais europeus. O tempo é para pensar estrategicamente. Definir os fins e escolher os meios. Procurar aliados nas outras satrapias, e mesmo no centro imperial. Quando se está na frágil condição de Portugal cometer mais erros seria um crime.
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