Esta semana três artigos do «Expresso» e um do «Nouvel Observateur» dão bem conta do estado calamitoso a que chegou a Europa comandada maioritariamente por partidos vinculados ao Partido Popular Europeu, nomeadamente pelos que comandam os destinos dos países mais apostados em transformar o sul do continente numa vasta extensão de gente empobrecida e sem esperança.
É o que Miguel Sousa Tavares constata quando escreve: A Europa deveria estar agora a discutir como se fortalecer para enfrentar um mundo globalizado e como conseguir competir, mantendo-se como vanguarda do pensamento da ciência, dos direitos humanos e da justiça social que fizeram dela o mais fascinante projeto político de sempre. Em lugar disso, está a discutir como acaba, como se suicida, fazendo renascer do inferno os velhos demónios que se imaginavam sepultados para sempre. Não há perdão para os autores deste hara-kiri.
São esses demónios, que Laurent Joffrin evoca no semanário francês, quando demonstra bem a estupidez de um mentecapto camilo, quando invocou a completa perda de tempo, que significa o estudo da História.
E o que Joffrin faz é recordar o clima económico e social de há oitenta e cinco anos atrás: Uma falência desencadeia uma crise mundial; a recessão faz aumentar o desemprego a níveis explosivos; multiplicam-se os casos de corrupção; a legitimidade da democracia é posta em causa; a vida política adota um tom áspero, e violento; os partidos antissistema começam a ganhar eleições; as desigualdades na distribuição dos rendimentos suscitam a cólera popular; as elites querem comprimir os salários através da austeridade; a deflação agrava a crise e torna descontrolada a situação social. Estamos nos anos 30. A crise económica assume uma tremenda brutalidade, os povos são atirados para a miséria, a violência política cresce até ao paroxismo, as democracias europeias ficam esmagadas entre as suas fações totalitárias, o fascismo e o comunismo. O mecanismo fatal conduz à guerra.
A moral com que Joffrin termina o editorial é bem conhecida: quem esquecer o passado arrisca-se a revivê-lo de novo.
Obviamente que o texto do conhecido jornalista francês tem por fundamento toda a embrulhada criada pelo Eurogrupo em torno da situação cipriota. Mas que Fernando Madrinha aventa tratar-se de mais uma das estratégias de enriquecimento acelerado dos países do norte da Europa às custa dos do sul: A fuga de capitais em larga escala, seja para os bancos alemães, e para os da sua órbita de influência, seja para fora da zona euro, mais reforça o poder do centro da EU em relação á periferia, porque desarma os estados mais débeis e lhes retira os meios para poderem investir na recuperação das suas economias. Assim ficarão condenados à miséria enquanto outros continuarão a engordar. As consequências deste jogo sinistro são por ora imprevisíveis. Mas uma Europa governada por incendiários só pode vir a transformar-se numa gigantesca fogueira.
Mas, ligando esse estado da Europa com a política interna, Pedro Adão e Silva põe o dedo na ferida, que mais nos pode fazer doer o brio luso: a lamentável figura de aluno obediente que cavaco silva há quase trinta anos, e agora passos coelho, encarnam face a gente que os despreza e deles se serve, sem escrúpulos para os seus objetivos. Explica o sociólogo e professor do ISCTE: Não admira que a Alemanha defenda os seus interesses, o que espanta é que os países da periferia interiorizem a culpa moral pela crise, que busquem expiá-la, aceitando sistematicamente o empobrecimento como solução, e que nas reuniões europeias ninguém se insurja contra o que é dito e feito. O que surpreende nas últimas semanas não são tanto as decisões tomadas, é a atitude colaboracionista de quem é objetivamente prejudicado. Não admira que Schäuble ou Dijsselbloem digam o que pensam. O que choca é que ministros do governo português presentes nestas reuniões não tenham a coragem patriótica para dizer: «Porque não te calas?»
Perante o regresso de José Sócrates justifica-se a questão: poderia ser diferente se ainda se mantivesse ele como primeiro-ministro? Como considerou Pedro Santos Guerreiro, diretor do «Negócios», até é possível, que estivéssemos a passar pelas mesmas aflições. Mas que os líderes europeus teriam que contar com um aluno muito menos obediente, lá disso ninguém tem dúvidas.
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