sábado, 30 de março de 2013

PORTUGAL: Quem tem a temer com o regresso de José Sócrates?


Nos debates televisivos destes dias o tema tem estado sempre no fulcro da discussão: quem tem mais a perder com o regresso em força do ex-primeiro-ministro ao combate político do país? Para já existem uns quantos figurões da nossa praça, que têm de tomar doses reforçadas de guronsans, seja porque tinham apostado em como Sócrates nunca conseguiria vencer a condição de cadáver político, seja porque o transformaram em demónio causador de todos os males da Pátria e vêem o seu pior pesadelo de regresso sem dele encontrarem artes de conseguirem despertar!
Há quem, como Martim Silva hoje no «Expresso da Meia-Noite» da SIC Notícias, considere ser António José Seguro quem terá mais a perder, porque a comparação do seu estilo mole com o da determinação férrea do antecessor, só o poderá prejudicar. E, nesse sentido, o que será mau para Seguro, constituirá um bálsamo para este (des)governo à deriva, compreendendo-se assim a lógica de quem avente tratar-se de estratégia maquiavélica de miguel relvas.
Não sabemos se o duvidoso licenciado da Lusófona teria imaginação para tanto, mas a confirmar-se tal tese, só virá a repetir-se o que é seu timbre: tornar desastrosa qualquer ideia que, à partida, pareceria de inquestionável potencial para os seus interesses.
Na entrevista de quarta-feira sentiu-se que Sócrates não virá apenas ajustar contas com a múmia embalsamada em Belém, já que, passado este fulminante KO, não justificará que se continue a gastar cera com tão ruim defunto. Tão pouco o moverá a cobrança da duvidosa lealdade da atual direção do Partido Socialista para com o seu legado. Nunca se viu no passado de Sócrates qualquer exemplo de marginalização ou de falta de probidade para com os seus camaradas socialistas.
Muito mais inteligente e comunicativo do que qualquer dos demais comentadores políticos dos diversos canais (deixando a léguas as velhacarias mentais de marques mendes ou a senilidade cristalizada de marcelo), Sócrates virá decerto fazer aquilo que melhor o caracteriza: abrir pistas para o que poderá vir a ser o futuro dos portugueses, quando se virem libertos do inferno dantesco em que a austeridade de passos e de gaspar os mergulharam.
Assim, ao contrário do que prevêem os defensores da tese de uma iminente liderança do Partido Socialista a duas vozes, não duvido quanto estarão enganados daqui a poucas semanas: Sócrates veio clarificar uma divisão de águas muito clara entre a direita e a esquerda. Excluiu soluções com esta direita no poder e não estigmatizou nenhuma das esquerdas, que o derrotou durante a discussão do PEV IV. O que significa a sua utilidade para possibilitar pontes futuras, já ensaiadas por António José Seguro para as autárquicas, mas ainda tornadas inviáveis pelo sectarismo das direções do PCP e do Bloco.
Seria natural que Sócrates condenasse essas esquerdas em função de se terem tornado suas inimigas, quando pretendeu evitar a todo o custo a vinda da troika. Mas, pior do que esses «idiotas úteis» da direita e dos oligarcas lusos, que têm continuado a enriquecer obscenamente enquanto a maioria dos portugueses empobrece, Sócrates sabe bem serem estes últimos os seus verdadeiros inimigos. Nos seis anos de governação ainda se iludiu com a possibilidade de contar com a sua complacência se não mesmo apoio. E, durante algum tempo, até se viu bafejado de elogios por muitos dos seus ulteriores inimigos, que então lhe reconheciam o fulgor reformista.
Os dois anos em Paris deverão tê-lo feito refletir sobre os seus erros e disse-o expressamente: nunca deveria ter aceite governar sem maioria absoluta. Não esclareceu foi com quem deveria ter criado convergências para tornear essa dificuldade. E todos terão pensado que teria em mente o PSD de manuela ferreira leite ou o CDS de  paulo portas. Mas … e se afinal o seu discurso persistente antidireita escondeu uma outra perspetiva de futuro, aquela que foi a necessária para que Hollande chegasse  ao Eliseu e Bersani quase ao Palácio Chisi?
Esta evolução pode ser tanto mais relevante quanto não lhe terá passado despercebida a pasokização dos partidos da Internacional Socialista, que aceitaram meter na gaveta os seus princípios e se dispuseram ao papel de marionetes daqueles que, mais objetivamente se apresentam contra tal ideário.
Estando a esquerda europeia confrontada com a urgência de muito rapidamente se reinventar, Sócrates poderá vir a ser peça fundamental dessa transformação, que também não deixará de passar por este cantinho à beira mar plantado.


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