quinta-feira, 14 de março de 2013

LIVRO: «Moderato Cantabile» de Marguerite Duras


Foi um dos maiores sucesso de Marguerite Duras, que teve este título traduzido e editado pelos cinco continentes, depois da sua edição em 1958.
Os temas da autora, já esboçados nas obras anteriores - o amor e a morte, a fulgurância do desejo, o encontro com um desconhecido, o peso do tempo e da sociedade -  são aqui congregados numa espécie de sinfonia a propósito da qual Claude Roy evocou Bela Bartók. A criação de um tal universo e de uma técnica romanesca tão burilada suscitou uma reação unanimemente positiva da crítica literária.
Estamos numa pequena cidade de província não identificada, á beira mar, com o seu encanto repetitivo e monótono, os seus ritos sociais - as sereias do porto, o café e os seus clientes habituais das seis da tarde, o jantar dos mais abastados -, o seu tédio.
Anne Desbarèdes, esposa do diretor das Fundições, acompanha o filho á lição de todas as sextas-feiras em casa de Mlle Giraud, que se obstina a fazê-lo tocar em «moderato cantabile» a sonatina de Diabelli.
À saída de uma dessas aulas - com que se inicia o romance - ocorreu um crime no café ali ao lado: uma mulher acaba de ser assassinada pelo amante.
O grito da vítima ocupa todo o espaço dessa tarde e passará a obcecar a mente perturbada de Anne.
No dia seguinte, como que assombrada pelo drama, ela volta ao café e é abordada por um homem, que mais tarde saberemos chamar-se Chauvin.
O romance salmodia-se, então, em seis outros capítulos, dos quais em quatro deles ela procura elucidar o desconhecido.
Subtilmente a história pessoal de Anne vai decalcar-se sobre o destino da vítima. A identificação da protagonista vai operar-se de forma voluntariamente lenta e o leitor irá, pouco a pouco, tornar-se testemunha de uma paixão à qual se associam em sábios contrapontos, diversos motivos com significado: o vinho, a serene, o sol poente e símbolos mórbidos (as camélias murchas).
A exemplo de «Hiroshima, Mon Amour», escrito por essa mesma altura, temos a conjugação da banalidade do quotidiano e a tragédia.
Numa curta novela, Duras quer mostrar a aceleração do tempo que, em dez dias e cinco encontros, leva os dois protagonistas a repetir simbolicamente a história do casal do início e até à morte: «Eu queria que você estivesse morta», disse Chauvin. »Está feito», responde-lhe Anne Desbarèdes.
Fragilidade dos encontros, fatalidades contraditórias do tempo social e do tempo interior, o regresso inexorável e impassível das estações e dos dias, «Moderato cantabile» apresenta-se como uma espécie de tragédia raciniana em que triunfam a solidão e a ausência que vem reforçar, de uma crua e litânica um estilo despojado de qualquer lirismo e donde contudo se escapa o canto, quase impercetivelmente, «na imbecilidade», como diria Duras.

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