Nas edições semanais do Expresso o Daniel Oliveira tem partilhado a mesma página com dois colunistas intragáveis (Henrique Raposo e Rui Ramos), que não se cansam de alimentar o esforço revisionista da História portuguesa do século XX e continuam a ver a realidade presente com as mesmas lentes deformadas.
Lê-los, semana após semana, é um bom teste para aferir da capacidade dos nossos estômagos em evitarem refluxos desagradáveis.
Foi assim sem espanto que lemos na edição de sábado a versão ruiramosiana do «Estamos no caminho certo» reclamado por passos coelho e vítor gaspar. Na perspetiva do putativo candidato a sucessor do legado de josé hermano saraiva no papel de efabulador-mor do passado nacional, o Partido Socialista estaria a agir estrategicamente no sentido de só avançar para a liderança do país, quando sentisse a iminente inflexão no rumo da crise e o advento do prometido oásis suscitado pelas recentes políticas de austeridade.
Confesso-me, agora, interessado em verificar o que dirá o inefável ramos quando, para nossa infelicidade, se revelarem redondamente falsos os supostos benefícios desta política. Porque, por exemplo, não é necessário acreditar nos dotes de zandinga de João Galamba para crer na previsão por ele hoje publicada no «Diário Económico»: Quem anuncia a retoma, anuncia também que não percebe como funciona uma economia num contexto de crise. Ao contrário do que pensa Gaspar, a despesa pública não estava a retirar recursos e a asfixiar o sector privado, os salários "elevados" e a rigidez do mercado de trabalho não estavam a travar a contratação e a criação de emprego, e não era a falta de capital ou liquidez que impedia os bancos de relançar o investimento. E é por isso que, lá para meados de 2013, se não antes, Gaspar vai voltar a ser surpreendido pela realidade e será obrigado a reconhecer que, ao contrário do que havia previsto, o investimento não arrancou, o desemprego continua a aumentar e que a retoma, essa, terá de ser (novamente) adiada.
Até porque as conclusões hoje publicadas pelo INE a respeito do comportamento da economia portuguesa em 2012 - uma queda de 3,2% do PIB - é bem elucidativo sobre a incompetência e cegueira ideológica deste executivo e responsáveis pelo empobrecimento acelerado de milhões de portugueses.
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