Como ateu deveria ser-me indiferente a personalidade de um novo Papa, já que ele representa todo um edifício de crenças filosóficas com que não me identifico de todo. Mas, sabendo-se como persiste a influência do catolicismo em tantos milhões de pessoas por esse mundo fora, acaba por ganhar relevância o pendor mais conservador ou de maior abertura do seu titular a uma dinâmica histórica da realidade em que nos movemos.
Nesse sentido é evidente que existe uma diferença abissal entre um papado como o personificou João XXIII, enquanto arauto de uma abertura da Igreja à sociedade, ou o resignado Bento XVI, sempre apostado em impedir o advento da modernidade de muitos valores fraturantes para dentro do seu rebanho. Ainda que uma das últimas intervenções tenha tido o condão de significar uma condenação bastante incisiva do capitalismo, o cardeal Ratzinger sempre impediu uma maior igualdade entre homens e mulheres dentro da hierarquia da Igreja Católica ou jamais abandonou a via do mais intransigente desacordo com o direito ao aborto ou ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A opção da Cúria pelo arcebispo de Buenos Aires parece abrir algumas expetativas de mudanças na determinação da Igreja Católica em condenar as desigualdades sociais e a pauperização dos povos como consequência desta fase aguda das características predadoras do capitalismo.
Porque é jesuíta, Jorge Bergoglio terá sempre a preocupação dos seguidores de Loyola pelo conhecimento, mais do que pelos dogmas. E a opção pelo nome de Francisco, numa alusão ao santo de Assis, constitui um manifesto de preocupação para com os pobres. Nesse sentido o fumo branco saído da chaminé do Vaticano pode ser um bom prenúncio para os tempos que se adivinham. Porque na luta contra esse sistema criminoso comandado da City ou de Wall Street todas as alianças, que fortaleçam o campo dos apoiantes de um outro tipo de sociedade deva ser saudada...
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