domingo, 10 de março de 2013

POLÍTICA: O vazio mora no outro lado da barricada


É verdade que na manifestação de 2 de março sentia-se uma enorme tristeza a perpassar pelos rostos de todos quantos desciam a avenida da Liberdade a caminho do Terreiro do Povo.
Mas tendo em conta a presença de tantos desempregados sem subsídios, de tantos precários sem garantia de continuarem com rendimentos de sobrevivência nas próximas semanas ou de tantos reformados com pensões cada vez mais reduzidas para as suas despesas e, quiçá, para as dos filhos e netos a quem procuram ajudar, será de espantar esse ambiente algo fúnebre?
O silêncio cinzento parecia ser o espelho exato do sentimento político da manifestação - comentou Pedro Adão e Silva no «Expresso», avançando a possibilidade de ele refletir o primado do vazio político.
Será um facto esse vazio, quando sabemos bem como ele é (quase) uma impossibilidade da física.? O vazio tende a ser preenchido por muito que, lentamente, flua para ele uma qualquer manifestação de energia.
Daí que não desespere pela aparente ausência de um qualquer amanhã que cante. De dentro ou de fora as surpresas acabam por surgir quando menos se esperam. Quem diria, por exemplo, que os suíços referendariam a limitação dos obscenos salários dos administradores das empresas e que se preparam para, igualmente, dar provimento à proposta socialista de redução das disparidades salariais dentro dessas mesmas empresas?
Quem parece toldado pelo vazio de ideias e de argumentos é passos coelho, que já não encontra melhor forma de se defender em debates parlamentares do que invocar a estafada pesada herança do governo anterior! Constata Pedro Marques Lopes no «Público»: o slogan do "vamos atingir os 4,5% de défice custe o que custar" morreu e a bravata do "nem mais tempo nem mais dinheiro" soçobrou à realidade. Já não há metas nem luzes ao fundo do túnel para apontar. Não há reforma digna desse nome, não há dado que não grite o falhanço absoluto do Governo e do plano europeu, que era, como foi repetido, o seu próprio. Nada bateu certo, tudo ficou muito pior. Com o desaparecimento das narrativas o discurso, que já não era propriamente fluente nem bem estruturado, tornou-se errático, sem sentido. Atiram-se simplesmente uns assuntos para o ar.’
O vazio mora afinal no outro lado da barricada: o daqueles contra quem desfilaram os indignados do 2 de março!

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