Há uns dias o Canal Q voltou a transmitir uma entrevista dada por João Botelho a Nuno Artur Silva, Pedro Mexia e Pedro Vieira por alturas da estreia do seu «Livro do Desassossego» e em que o realizador se insurgia contra os modelos implementados em Portugal pela rede comercial de distribuição de filmes. A sua indignação pela quase impossibilidade de um filme português conseguir acesso às salas comerciais atingia tal paroxismo, que os seus interlocutores nem sequer conseguiam tomar a palavra.
Ora a quase clandestinidade a que um filme como «Efeitos Secundários» foi votada dá razão a João Botelho, porque estreia-se tanto filme norte-americano de muito menor interesse quando o cinema português tem obras bem mais capazes de encontrarem o seu público. E, no entanto, vão-se sucedendo ministros e secretários de estado a tutelarem o setor e as medidas necessárias para o potenciarem, ficam sempre pelas boas ou nenhumas intenções.
Pior ainda, fica, aliás, como um dos crimes de lesa-cultura deste (des)governo e dos seu secretário de estado francisco josé viegas a total interrupção da produção nacional numa altura em que, na senda de «Tabu» do Miguel Gomes, havia a oportunidade para exportar eficazmente outras obras merecedoras de constituírem uma espécie de nova geração portuguesa, como vem acontecendo por exemplo com os jovens cineastas romenos, que vão consolidando o seu prestígio em sucessivos festivais internacionais.
Neste filme de Paulo Rebelo temos um triunvirato de excelentes atores - Maria João Luís, Nuno Lopes e Rita Martins - a defenderem outros tantos personagens consistentes, que se encontram e desencontram, em função das suas carências afetivas. Há o problema da sida e das relações tumultuosas ou de indiferença entre pais e filhos, tendo por cenário as arribas e a praia da Costa da Caparica.
Dentro da solidez do seu argumento e da sábia gestão dos escassos meios disponíveis, «Efeitos Secundários» é obra escorreita e merecedora de (bem) melhor reconhecimento...
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