terça-feira, 26 de março de 2013

LEITURAS: «Terra e Cinzas» de Atiq Rahimi


A passagem do Exército Soviético pelo Afeganistão poderia ter sido a oportunidade para que um dos mais retrógrados países da Ásia Central saísse do seu acervo de preconceitos e entrasse decididamente nos valores da modernidade.
Má sorte a dos comunistas afegãos, que se viram joguete de uma Guerra Fria chegada à sua fase final com Ronald Reagan a apostar na derrota do cristalizado regime de Breznev. Mesmo que armando até aos dentes aqueles que, anos depois, viriam a derrubar as Torres Gémeas de Nova Iorque.
Passados dez anos sobre a chegada dos talibãs a Cabul, Atiq Rahimi escreveu uma pequena novela sobre os dilemas, que se colocavam nesse passado já então distante, quando o romance foi publicado em França (2000). O protagonista é um velho, que viu a sua aldeia destruída pelos soldados russos e vai com o neto Yassin - o único sobrevivente da família - à procura do filho, Mourad, que trabalha numa mina de carvão.
Deixando a mente alternar entre a dolorosa vigília e os delírios mais ou menos favorecidos pelo alucinogénio que vai mascando, ele tem a esperança de ver o pai do miúdo sair da mina e ir vingar a família assassinada. Mas a deceção é grande, quando descobre que a notícia do massacre chegara à mina e que Mourad até se julgara derradeiro sobrevivente da família. Apesar de continuar a trabalhar a soldo dos agressores.
Muito embora esse desiderato não seja assim tão explícito, o romance demonstra a existência de um conflito de gerações em que os mais velhos rejeitam o regime pró-soviético, mas os filhos até não enjeitam esse comprometimento.

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