Volto à leitura de Aquilino após um hiato de muitos anos e à boleia do cinquentenário da sua morte, que se cumprirá a 27 de maio. Motivo, convenhamos que pouco justificável, porque o autor do «Malhadinhas» merece uma atenção bem mais contínua atendendo à sua escrita rica em estilo e em vocabulário e, sobretudo, pela sua personalidade ímpar, capaz de influenciar gerações sucessivas de grandes intelectuais do século XX. Como o reconhece José Gomes Ferreira num preâmbulo encomiástico em relação ao escritor, que sempre conheceu como seu Mestre. E como continuam a referenciar Baptista Bastos ou Mário Carvalho, quando sobre ele se pronunciam.
Porque, além da qualidade da sua escrita, Aquilino foi um antissalazarista indefetível, que sempre demonstrou a coragem de enfrentar a besta hedionda da repressão e da ignorância, depois de ganhar tirocínio muitos anos antes, quando militara ativamente na Carbonária para derrubar a falida Monarquia.
Como alinharei aqui sucessivos apontamentos em função da evolução da leitura, fico-me por ora pelas primeiras páginas, quando Aquilino está nos dezasseis ou dezassete anos e o século XX nos seus primórdios e os pais o querem prior de uma das cinco mil paróquias então existentes no país. Porque ser padre na altura corresponderia a chegar a pé e apenas com o breviário na mão ao local de peroração e, passados anos, já aí ser tido como um dos principais proprietários rurais.
Ora o jovem Aquilino, embora ainda virgem nas experiências libidinosas, sabe que não quer ficar solteiro e foge desse devir como Maomé do toucinho. Mas os pais são persistentes e movem influências junto de amigos e conhecidos para que falem com o irreverente rebento e o convençam das vantagens da sotaina. Até o histriónico Albino, versado nas artes cénicas, é comprado para tal missão à conta de um escabeche com que ilude o apetite.
Fechei o livro, deixando-lhe a respetiva marca, quando Aquilino ainda não está decidido a partir para o internato no seminário de Beja.
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