Esta manhã, depois de vários anos sem ali nos deslocarmos, regressámos ao Museu de Etnologia no Alto do Restelo.
Em tempos idos víramos ali exposições curiosas sobre instrumentos musicais ou artefactos rurais. E tínhamos agora o estímulo de algumas notícias encomiásticas a respeito de uma nova opção museológica para a amostragem da sua coleção permanente.
A deceção foi inevitável: não é que as diversas peças em exposição não estejam adequadamente dispostas ou com falta de explicações sobre o seu significado, mas basta uma hora para ver detalhadamente a pequena área disponibilizada ao público. Incompreensivelmente as coleções sobre a Amazónia ou os artefactos rurais só são acessíveis mediante uma ou duas visitas guiadas por dia.
Foi inevitável a comparação com o mais recente dos museus de etnologia mundiais descobertos pela nossa curiosidade.
No caso do Troppen de Amesterdão a surpresa foi totalmente contrária: situado ao lado do hotel aonde nos alojáramos em Amesterdão para quinze dias de férias, correspondera a uma enésima escolha depois das visitas obrigatórias aos museus mais conhecidos da cidade (o Rembrandt, o Van Gogh, o da Marinha).
Deixáramo-lo para a manhã do último dia, antes de partirmos ao começo da tarde para o embarque aéreo em Schipol. E o que então encontrámos foi um enorme edifício com objetos e filmes referentes a todas as áreas geográficas por onde os holandeses passaram desde as ilhas indonésias até à costa do nordeste brasileiro, sem esquecer outras vertentes estimulantes da etnologia como o são a evolução da música ao longo dos séculos ou as diversas manifestações da religiosidade dos povos. Até o restaurante apresentava um cardápio com gastronomia de várias latitudes e longitudes geográficas por preços assaz interessantes.
Tivéssemos um dia inteiro para ali estar e seria escasso para dedicar a mesma atenção hoje atribuída a cada uma das peças e filmes do museu de Belém.
E, no entanto, o império colonial português foi mais vasto e duradouro do que o holandês, pelo que tivesse havido o mesmo cuidado de conservação de objetos dignos de figurarem numa exposição etnológica e não deixariam de configurar uma coleção digna de elogio.
Assim fica esta sensação de ficarmos devedores a uns quantos colecionadores, que ofereceram as peças em causa ao Museu - Francisco Capelo, Ernesto de Sousa - para ainda restar algo digno de ser visto porque o Estado, com os seus sucessivos titulares da Cultura, sempre terá menosprezado o investimento e a atenção para uma área tão potencialmente interessante do ponto de vista turístico como o são os museus.
A lógica miserabilista herdada do salazarismo ainda continua a fazer escola nas instituições culturais do país.
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