quinta-feira, 21 de março de 2013

PORTUGAL: Sou dos que querem ouvir os comentários de Sócrates


A notícia já era esperada, mas daria sempre azo a este tipo de reação exagerada entre quem é a favor e quem é contra: Sócrates está de volta para cumprir o seu imperativo de  participação na vida nacional, desta feita através do comentário político na RTP.
Até acredito que, na origem de tal convite, esteja a expetativa dos «boys» do PSD em criarem dificuldades a António José Seguro. Na sua visão deformada da realidade, julgarão ganhar algum desafogo no acosso a que se veem continuamente sujeitos  pelo descontentamento dos portugueses. Mas não tenho qualquer dúvida em como o tiro lhes sairá pela culatra. Até porque o antigo primeiro-ministro nunca se deixou guiar por ódios de estimação para com camaradas de partido e, mesmo para com um António José Seguro, que nem sempre deu então mostras do mesmo tipo de lealdade.
No jogo de forças entre petições a favor ou contra a presença de José Sócrates na RTP, defendo obviamente a primeira daquelas posições. Porque admiro no primeiro-ministro dos governos socialistas a permanente determinação em criar um Portugal apostado em cidadãos com cada vez maiores competências (Novas Oportunidades, requalificação das escolas públicas), com energias renováveis, com investigação científica e com uma presença destemida e assertiva nas instituições europeias.
Para que os seis anos de governação fossem ainda mais memoráveis no bom sentido teria sido necessário, que José Sócrates não incorresse em dois erros fatais: o primeiro foi pensar que deveria trabalhar para um Portugal mais justo e igualitário desde que assegurasse a complacência das elites dominantes que, nas últimas semanas, têm demonstrado o tipo de valores em que apostam (Revoltados “Indignados”, a limpeza das matas segundo salgueiro, belmiro e a mão-de-obra barata, ulrich e o aguenta dos sem abrigo, etc).
Sócrates teve uma perspetiva errada das relações de força na sociedade portuguesa, quando evitou as pontes à esquerda e as quis multiplicar à direita que, desde o início, e numa campanha vergonhosa, que utilizou argumentos sem ponta de escrúpulo, o quis denegrir, difamar, eliminar.
E o segundo erro foi o de não entender - como nenhum outro líder europeu entendeu! - os efeitos da falência da Lehman Brothers na evolução política e económica dos anos seguintes. Quando se pensava na forte probabilidade das oligarquias financeiras ficarem na defensiva face ao terramoto, que provocaram, constatou-se o contrário. Cientes de que a melhor defesa é o ataque, elas avançaram para a forma mais selvagem de capitalismo e impuseram uma agenda neoliberal em que a austeridade está a servir para a mais rápida transferência de riqueza das classes desfavorecidas da Europa e da América do Norte para os gananciosos acionistas de bancos e de grandes empresas dos setores da energia.
Após este retiro sabático é provável que José Sócrates tenha refletido sobre tudo isto. E eu estou bastante curioso quanto ao resultado da evolução do seu pensamento. Para nosso proveito e para contributo da transformação da sociedade portuguesa na via do progresso e do seu desenvolvimento igualitário.

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