Confesso que nunca me senti particularmente nacionalista. O que significa, que não aprecio particularmente a nossa bandeira recheada de simbologias do passado nem um hino ainda mais desfasado no tempo com as suas apologias caricaturalmente guerreiras. Razão para nunca ter seguido a moda lançada por Scolari, quando a salvação da pátria parecia depender do comportamento de uns quantos jogadores num campo de futebol, nem fiquei particularmente emocionado quando as vitórias da Rosa Mota ou do Carlos Lopes implicavam as cerimónias protocolares do costume.
Mas, pelo contrário, já me senti bastante patriota, quando houve que fazer coro com quantos exigiam a libertação de Timor Leste do jugo indonésio ou quando, um dia, na cidade japonesa de Miike, fomos visitados a bordo do navio «Fernando Pessoa» por autoridades locais encantadas pela presença de marinheiros lusos num local aonde eles tinham sido determinantes para o salto civilizacional da região em pleno século XVI, como o testemunhavam muitos dos documentos e objetos expostos no museu local.
Vem tudo isto a propósito de existir em mim a noção de dois comportamentos distintos perante o conceito de Pátria: aquele acéfalo e preconceituoso herdado do salazarismo, que implicava a cristalização das mentes num conjunto de «verdades» mais do que relativas, e um outro de quem dirige os destinos do país e tudo tenta fazer para defender os interesses dos seus cidadãos, mesmo quando ameaçados pela violência de outras nações. Sobretudo quando se tem em conta que a Economia é mesmo a Guerra conduzida com outros meios.
Os dados históricos que vão sendo apurados demonstram à saciedade que este segundo conceito de patriotismo, tem de sobra Sócrates o que falta a passos coelho na sua postura de aluno obediente em tudo quanto merckel, lagarde, draghi ou barroso lhe mandam fazer.
Nesse sentido o artigo de Teresa de Sousa no «Público» alinha o comportamento de passos com o das elites lusas que, em momentos determinantes da nossa independência - quer no século XIV, quando Aljubarrota a preservou, quer no século XVII, quando a Restauração a recuperou, se colocaram sempre do lado errado da História.
Escreve a jornalista referida: ‘Como dizia um amigo meu, é preciso nunca nos esquecermos que a elite portuguesa estava do lado de Castela na batalha de Aljubarrota. A elite actual, às vezes, não parece ser muito melhor. Quando José Sócrates fazia (mesmo que mal) todos os esforços que um primeiro-ministro deve fazer para evitar a intervenção externa da União Europeia e do FMI, a intelectualidade bem pensante babava-se com a perspectiva da vinda do FMI. Sócrates tinha uma pequena abertura que quis forçar, e que esteve quase a forçar, com a ajuda de Barroso e do BCE. Toda a gente que acompanhou os meses anteriores ao resgate sabe que foi assim.
(…)Em contrapartida, o resgate era a maneira mais rápida para o PSD de Passos Coelho chegar ao poder e a maneira mais fácil de pôr em prática um programa económico e social que, de outra maneira, seria inaceitável. O programa da troika era o seu programa. Foi essa a aposta de Passos. (…)’
Não sobram dúvidas quanto ao lugar que caberá a passos coelho na História portuguesa, se é que conseguirá alguma referência em breve nota de rodapé. A consegui-lo será decerto para lembrar que os miguéis de vasconcelos não se finaram todos com o despejo pela varanda em 1640: ficaram lamentáveis seguidores para cumprirem o mesmo papel que constitui uma das características da arte de ser português, a de puxar para trás, quando todo o país anseia por ir para diante!
Sem comentários:
Enviar um comentário