Nos primeiros anos do século XX Aquilino era um adolescente a quem os pais pressionavam para que viesse a ser padre. Pouco convencido, mas ciente dos efeitos de lhe ter sido cortada a habitual mesada, ele lá se dispõe a preparar-se para a imprescindível cadeira de Filosofia, sem a qual tal objetivo seria inviável. Vai então para Viseu para receber explicações de professor, que da matéria parece saber tanto quanto ele e hospeda-se na casa de uma senhora já madura, mas conhecida pelas liberalidades com inquilinos em tempos idos.
Desta feita em vez de colher as doces atenções tão elogiadas pelo amigo que lhe recomendara a casa, Aquilino vê-se obrigado a dela escapulir-se, quando deu duas estaladas no filho da megera, que o pisara de propósito. Como o rapaz já era padre, começa aqui um contencioso de Aquilino com os profissionais da vocação, que se prepara para renegar.
Mas da cidade beirã fica um retrato simpático, elucidativo quanto à sua quietude:
Viseu era uma cidade um pouco menos dormente que Lamego, mas airosa e desenxovalhada. A população foi sempre afável por temperamento e prazenteira. E continua a sê-lo. De modo geral, não há ali ninguém que responda a um recado ou deprecada com duas pedras na mão ou de cenho franzido. Vê-se que um otimismo salutar é de regra na sua vida das relações. Porventura os problemas que se pousam á família portuguesa oprimem ali as pessoas e obrigam-nas a iguais inquietudes e sobressaltos. Mas o transe decorre entre as quatro paredes na azenha interior ou familiar. (pg. 43, Livraria Bertrand, 1974)
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