Amanhã, 30 de abril, a emissão do canal ARTE contará com um documentário extremamente aliciante sobre a China atual. Trata-se de um fresco em três episódios de uma hora cada, sobre a história desse imenso país no último século e meio para permitir-nos entender como é que ela está em vias de se transformar numa poderosa superpotência.
Em 2008 e em 2010, os Jogos Olímpicos e a Exposição Universal de Xangai permitiram testemunhar, com grande pompa, uma ascensão sem precedentes na História Universal: como o país mais povoado do mundo recuperou de um considerável atraso económico e em pouco menos de trinta anos consegue alcandorar-se à condição de grande potência mundial.
Para retratar este extraordinário sucesso, que o Ocidente encara com uma desconfiança proporcional ao seu desconhecimento da China e dos chineses, o realizador Jean-Michel Carré condensou este século e meio de História. Graças a documentos de arquivos muito ricos e, em muitos casos, inéditos, e às entrevistas com dezenas de interlocutores de todas as camadas sociais - investigadores, membros do Partido, operários, camponeses, intelectuais, artistas - ele permite-nos abordar a complexidade chinesa na sua globalidade, da economia à cultura, da política à geoestratégia.
Trata-se de uma viagem de longo curso, densa e apaixonante, às mentalidades e às memórias chinesas, das guerras do Ópio à subida ao poder da quinta geração de dirigentes comunistas na pessoa de Xi Jinping, o seu novo presidente.
O primeiro episódio intitula-se «A China desperta». Da revolta republicana de Sun Yat-sen em 1911 à morte de Mao Zedong em 1976, a China libertou-se das potências ocidentais, que a haviam ocupado durante as guerras do Ópio. Veremos, assim, a proclamação da República Popular da China em 1949, os erros e as vitórias de um Partido Comunista liderado pelo omnipotente Mao Zedong e as complicadas relações com os EUA e a URSS, que permitem prever as transformações geoestratégicas subsequentes.
O segundo episódio intitula-se «A China afirma-se». A abertura liberal preconizada por Deng Xiaoping, sucessor de Mao, permitiu implementar um vendaval de reformas económicas. Dez anos depois, a perversidade do capitalismo na sua versão chinesa (ultraliberalismo económico e autoritarismo político) conduz à revolta de Tian’anmen, que se salda por um banho de sangue em 1989.
Ao isolar Deng Xiaoping, acusado de ter levado para a rua o debate político, o Partido Comunista retoma a condução dos acontecimentos e do aparelho do Estado.
Mas a China vê-se isolada na sequência da implosão do Bloco de Leste e da URSS e tem de aceitar uma nova aceitação das ideias de Deng Xiaoping, mesmo que sem abandonar o controlo absoluto do Partido sobre o desenvolvimento económico, criando a estrutura monolítica ainda hoje dominante na política chinesa.
Chegaremos, então, à terceira parte - «A China Domina» com a China a entrar na Organização Mundial do Comércio, que irá alterar as relações económicas a nível planetário, já que ela transforma-se na fábrica do mundo.
A presidência de Hu Jintao, que promete ao povo a “sociedade harmoniosa”, utiliza o sucesso dos Jogos Olímpicos e da Exposição Universal para encenar a importância recuperada: em dez anos, a China vai passar do 6º lugar para o 2º da economia mundial - e não tardará a chegar ao 1º.
O frenesim do desenvolvimento exacerba os disfuncionamentos da sociedade: as disferenças cada vez maiores entre ricos e pobres, a corrupção generalizada, os desastres ecológicos num contexto de um Estado cada vez mais contestado por uma nova geração de dissidentes.
Saberá a nova superpotência gerir as suas contradições internas sem pôr em causa a supremacia absoluta do Partido?
Sem comentários:
Enviar um comentário