Já passaram cinco dias sobre o tristemente memorável discurso de cavaco silva na Assembleia da República e vão-se criando três tipos de reações a algo que deixou surpreendida muita gente, muito embora o atual inquilino de Belém já conte com tantas malfeitorias no seu vasto currículo.
Há os que consideram que a esquerda exagerou ao ler apenas uma vertente do que foi dito sem atentar nas críticas igualmente atribuíveis ao (des)governo. Esta é a posição dos indefetíveis cavaquistas que, mesmo perante todas as evidências, continuarão a considera-lo um homem íntegro, democrata e competente enquanto economista. Lembrarão Pangloss ou o mais recente exemplar desse tipo de gente (o inefável ministro de Saddam Hussein) que nem perante todas as evidências do contrário, continuarão sempre a apostar nas suas facciosas opiniões.
Há os que reconhecem a óbvia parcialidade das palavras de cavaco, mas atribuem-nas a uma outra causa: ele seria uma espécie de clarividente observador da nossa realidade e deteria por isso mesmo o conhecimento de ela ser ainda bem pior do que nos é mostrada diariamente nos indicadores de execução orçamental. E, por isso, temeroso de somar uma crise política à económica, pretenderia limitar os danos com o esforço de fazer perdurar o moribundo (des)governo na esperança de um milagre redentor.
E sobram todos os outros: os que sabem que, ainda mais gravosa do que a crise económica é a crise social, que tanto desespero e inquietação tem disseminado por todas as camadas sociais da população portuguesa. E se isto não é uma crise política, que exige um outro caminho, o que será então ela?
O lamentável presidente, que nos coube suportar neste período é a mais evidente demonstração do princípio de Peter. Muito embora devamos reconhecer, que ele ascendeu a escalões de responsabilidade política, que ficam muito acima do que aconselhariam as suas efetivas capacidades e competências.
O país levará muitos anos a reparar todos os danos, que cavaco silva suscitou na sua quase contínua atividade política de mais de três décadas. E é certeiro o veredito de Viriato Soromenho Marques numa pequena, mas incisiva, crónica no «Diário de Notícias» do transato sábado: a única maneira de a História ser benevolente para com Cavaco Silva, o político que deu rosto a todos os pecados e omissões da III República, é a de ela nunca ser escrita. Seria a benevolência do esquecimento, resultante do desaparecimento de Portugal como sujeito histórico, como lugar onde a aventura da vida comum se cristaliza em, memória. Será essa a secreta esperança do Presidente?
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