quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

FILMES EM 31 PARTES: «Daredevils of the Red Circle» de William Witney e John English (1939)

Quando, há quase quarenta anos, iniciei a vida de oficial da Marinha Mercante, encontrei gente excecional então à beira de meter os papéis para a reforma.
Das longas viagens entre a Europa e o golfo Pérsico, pela rota do Cabo recordo as conversas a fio com esses homens, que carregavam consigo as memórias riquíssimas de experiências de vida. Um deles era um enfermeiro chamado Duarte Ferreira, que tinha uma cultura geral acima da média e era um entusiástico leitor da «História Universal» de H.G. Welles.
Foi por ele que ouvi, pela primeira vez falar dos «filmes em trinta e uma partes», que tinham animado a sua juventude  entre os anos 30 e os anos 50.
Na Lisboa de então ganhara a rotina de ir ao sábado ver o episódio do filme, que estava a acompanhar com  grande entusiasmo e interrompido em momento particularmente palpitante na semana anterior. Na escola ou no local de trabalho, ele e os amigos punham-se a conjeturar como é que o «Mascarilha» ou o «Mandrake» se tinham libertado dos apertos em que haviam ficado.
Curiosamente ao googlar em busca dessa expressão são raríssimas as referências a ela: os brasileiros falam de “seriados”, os franceses ou os ingleses de “serials”.
Vale a pena, ainda assim, regressar momentaneamente a esse tempo de grande ingenuidade, quando histórias maniqueístas eram seguidas com o mesmo entusiasmo, muitos anos depois suscitado pela televisão, quando séries desde «O Fugitivo» dos anos sessenta à atual «Guerra dos Tronos» mais não fazem do que reproduzir a  mesma lógica de prender a atenção do espectador, fidelizando-o e tornando-o dependente da continuidade da história.
Nesse distante passado o mundo parecia tão simples! Era a época em que os três diabos vermelhos (“Daredevils”) perseguiam um patife, que fugira da prisão e prometia destruir todas as fábricas do milionário Granville.
Tim Tyler avançava na savana africana à procura do pai desaparecido no País dos Gorilas, quando estava à procura do mítico cemitério dos Elefantes.
Flash Gordon combatia o Imperador Ming, que usurpara o trono do planeta Mongo.
O Oeste era teatro de numerosas lutas com Tom Mix montado no seu fiel Tony em busca do tenebroso Zaroff, que pretendia apossar-se do explosivo X-94 existente no subsolo de uma reserva índia. Ou o Mascarilha e o seu inseparável Tonto ajudavam os Justiceiros do Faroeste a vencerem o melífluo Jeffries e os seus acólitos.
Zorro reaparecia como herói solitário para enfrentar El Lobo e o seu bando, que a soldo do banqueiro Marsden, queria apossar-se das ações da companhia ferroviária Califórnia-Iucatão… ou a desmascarar o inquietante Don Del Oro, o Ídolo do Ouro Iaqui ressuscitado para incentivar as tribos índias à conquista do México.
Mas já surgia a ameaça amarela: Sir Nayland Smith lançava-se na pista di diabólico doutor Fu Manchu, em busca do cetro de Gengiscão, que lhe permitiria lançar a rebelião asiática contra o poder dos brancos.
Na América Rex e os seus polícias combatiam Haruchi, o homem com o cérebro mais maldoso de todo o Japão, chegado do país do sol nascente para organizar um conjunto de sabotagens como jamais se conhecera em terras do tio Sam.
Para começar esta evocação dos filmes em trinta e uma partes teremos «Daredevils of the Red Circle» realizado em 1939 e … com apenas doze partes! Atenção especial a Charles Middleton no papel do vilão, já que nenhum outro ator se lhe comparou no número de vezes e na convicção com que assumia a personagem mais odiosa...































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