Eu que não sou do Benfica, nem presto particular atenção aos futebóis, fico abismado com a dimensão conferida pelos media a Eusébio no dia da sua morte. Sempre que ligava um dos canais de notícias do cabo lá apareciam os repórteres de rosto compungido a entrevistar gente desconhecida, mas carregada de sentimento pelo defunto.
O país parou, não importando os cortes nas pensões ou nos ordenados da Função Pública, nem o despedimento coercivo dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana, muito menos o retificativo do Orçamento ainda agora entrado em vigor (o que esta gente disse, quando Sócrates teve de avançar com alterações na segunda metade do ano!) ou o sofrimento dos muitos sem-abrigo, que se escondem nas reentrâncias da cidade.
E então se comparamos com a importância conferida a desaparecimentos bem mais relevantes, como os de Saramago ou de Urbano Tavares Rodrigues, concluímos pelo regresso da ideologia dos três «Fs», quando o Estado Novo entretinha o povo com Fátima, Fado e Futebol para esconder os crimes quotidianos praticados na metrópole ou nas colónias.
Agora, por um par de dias, temos os portugueses a esquecerem-se do papel lamentável de cavaco silva na sua mensagem de Ano Novo, lendo (mal) um texto confecionado por gente sem qualidades e em que, como escreveu Pedro Marques Lopes, no “DN”, demonstrou, uma vez mais, não estar à altura do momento, por não mostrar bom senso, ponderação e sentido patriótico de responsabilidade.
Valha-nos a esperança de ver Baptista Bastos ter razão, quando conclui assim a sua crónica semanal no «Jornal de Negócios»: não podemos desistir, não podemos capitular, não podemos abandonar o terreno onde se dirimem as questões centrais da civilização. Nem tudo está perdido, porque nos resta a força da nossa razão e o poder imparável daquilo que queremos.
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