Entrou na rotina o tipo de discurso dos jornalistas enviados para as ruas das grandes cidades para darem conta do impacto das greves com impacto no quotidiano da generalidade da população : em vez de respeitarem o direito de quem opta por tais formas de luta procuram o melhor ângulo populista para as desqualificar.
É por isso que, quando são os transportes a estarem em causa, se buscam os testemunhos de quem fica nas paragens ou nas estações à espera do veículo, comboio ou embarcação, que seguramente não aparecerá. E é um fartar vilanagem de gente indignada com os grevistas em vez assistirmos ao seu bem mais compreensível desagrado com quem é verdadeiramente o culpado de tais situações.
Procura-se sempre virar trabalhadores contra trabalhadores, salvaguardando-se a responsabilidade do governo ou das administrações dele dependentes.
E, mesmo agora, perante uma forma de luta discutível como a dos cantoneiros de limpeza de Lisboa, não podemos aceitar que a jornalista de um dos canais televisivos se aproximasse de um dos trabalhadores regressados ao desempenho das suas funções e lhe perguntasse se a greve valera a pena, decerto esperançada em encontrar nele algum desagrado com as suas estruturas sindicais.
O que está a ocorrer na informação emitida por jornais, televisões ou rádios é a produção de um discurso conivente com a direita no poder, graças à marginalização de excelentes profissionais entretanto afastados e substituídos por uma camada de jornalistas mais novos cuja precariedade no emprego os leva a submeterem-se às instruções das suas chefias no sentido de manipularem o tipo de informação emitido.
É por isso que devemos estar cientes de quão em causa temos o direito constitucional à informação, já que a comummente distribuída possui uma orientação a contracorrente dos interesses da maioria que a consome.
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