Em «Mississipi em Chamas», filme realizado por Alan Parker há um quarto de século, já víramos ficcionada todo o clima políticoe social aqui descrito neste documentário de Dawn Porter.
Estava-se então nos anos 50 e adivinhava-se uma luta social particularmente agudizada neste estado do sul dos States: a maioria da população era negra e estava empenhada na luta pelos Direitos Cívicos, que tinha em Martin Luther King um dos seus principais expoentes. Mas existia, igualmente, uma grande militância dos brancos racistas no Ku Klux Klan, dispostos a investir em todos os meios, legais ou ilegais, para impedirem a concretização da integração racial.
Habituados a serem patrões de escravos, esses brancos não poderiam aceitar escolas multirraciais, mesmo que o Supremo Tribunal o exigisse a partir de 1956.
O Parlamento estadual decide criar a Mississipi State Sovereignty Comission, que se dizia disposta a contrariar as leis federais em nome da “especificidade” da cultura local Mas, na realidade, essa comissão era uma agência de ligação com o Ku Klux Klan para espiar os militantes antirracistas e preparar ações destinadas a aterroriza-los. Em breve sucedem-se os homicídios, as difamações e os raptos, quantas vezes com a cumplicidade de alguns traidores cujo convívio com os elementos mais ativos da sua comunidade só terá por fito melhor fazê-los cair nas malhas assassinas de quem lhes pagava alguns punhados de lentilhas.
O que mais abalará essa atividade será o homicídio de três militantes do recenseamento eleitoral dos negros, cujo desaparecimento estará nas primeiras páginas de todo o país até serem encontrados os corpos algumas semanas depois graças a uma denúncia anónima. Ou seja o caso mostrado no filme com Gene Hackman, Willem Dafoe e Frances MacDormand.
Em 1965 a imposição federal da Lei dos Direitos Cívicos porá termo às atividades dessa Comissão. Mas só nos anos 90 surgirão inquéritos judiciais sobre os crimes por ela cometidos.
Ainda assim, nos EUA de hoje, o Mississípi é um dos Estados mais reacionários, constituindo um dos mais fervorosos feudos do «Tea Party».
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