No colóquio hoje decorrido no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian a propósito dos 30 anos da sua inauguração, surgiu uma questão bastante interessante relacionada com a pós-modernidade: a atitude de pôr tudo em causa, reivindicando uma liberdade criativa em rutura com os cânones então vigentes, pode ter muito a ver com o neoliberalismo, que veio determinar as políticas governativas destas décadas mais recentes.
Voltemos, então, atrás: na mesma época em que os pós-modernos adotavam a atitude em tempos preconizada por Almada Negreiros como seu precursor - “a alegria é a coisa mais séria da vida” - fazendo da liberdade o valor essencial a defender, também reagan e thatcher encetavam outra forma de entender o aquele que pareceria ser o mesmo conceito: guiados pelas teses de um milton friedman implementavam politicas, que tinham por objetivo a liberdade dos mercados. Desregulando-os o mais possível sob o argumento absurdo de existir uma “mão invisível” capaz de criar a máxima justiça entre os cidadãos. Porque só teriam de ser competitivos e empreendedores para serem protagonistas de milhentas réplicas do “sonho americano”.
A vigarice dessa suposta liberdade atingia tal dimensão, que a amiga de Pinochet perorava do 10 de Downing Street, os benefícios de um “capitalismo popular” capaz de transformar proletários em acionistas das empresas onde eram explorados.
Desde então a “liberdade” tem valido para tudo: foi em seu nome, que clinton eliminou os últimos entraves para os bancos funcionarem em roda livre e causarem a crise de 2008 ou que george dabliú mandou invadir o Iraque para levar a democracia a todos os países muçulmanos.
Foi para defender a “liberdade” dos americanos, que a NSA passou a concretizar a lógica orwelliana do Big Brother.
Tem sido à pala da “liberdade”, que o tea party tem mantido a pressão política para evitar qualquer regulamentação sobre a posse de armas num país pejado de exemplos de tiroteios suscitados por psicopatas ou para obstruir a implementação do Obamacare, um tímido pacote de disponibilização de serviços de saúde a quem os não possui.
Não esqueçamos que invocando a “liberdade”, os jovens do cds quiseram reduzir a escolaridade obrigatória ou os jovens do psd estão a querer a travagem da legislação favorável à co adoção.
Temos, pois, que nos precaver de quem usa e abusa da palavra “liberdade” para, com ela, privar 99% da população dos seus direitos fundamentais.
Com este governo de direita, temos conhecido exemplos múltiplos de habilidades semânticas para iludir a verdadeira natureza das políticas aplicadas.
A exploração do conceito de “liberdade” tem, pois, de merecer particular atenção sobre quem dela se reivindica. Porque, depois da implosão dos regimes “comunistas” do leste europeu, as esquerdas têm-se mostrado muito permeáveis a estratégias mais de acordo com as tradições anarquistas ou socialistas utópicas - que sempre se revelaram inconsequentes, se não mesmo bloqueadoras das que sempre se manifestaram mais eficazes. Aquelas que implicam um incontornável regresso à lógica marxista!
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