segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

POLÍTICA: a faísca que irá incendiar a pradaria

Esta semana no «Eixo do Mal» o Daniel Oliveira contestou a previsão de Clara Ferreira Alves em como passos coelho teria grandes hipóteses de disputar a vitória das legislativas com António José Seguro em 2015, porque tratar-se-ia de algo nunca visto: um governo permanentemente a legislar contra a maioria dos seus cidadãos e a ser depois aprovado por eles!
Otimista por natureza, e de acordo com o ideário marxista de que me reivindico, concordo com o ex-bloquista e as notícias de hoje parecem-lhe dar razão: em Espanha, bastou o governo rajoy avançar com um projeto de lei contra o aborto e a queda nas sondagens foi abrupta e imediata. Ao contrário do que se perspetivava nos meses mais recentes, o PSOE terá grandes hipóteses de vitória nas próximas eleições europeias.
Não foi, pois, a política austeritária do governo de direita a fazer-lhe perder o apoio de que se vinha reclamando, mas a tentativa de destruição de uma legislação execrada pela direita por colidir com os seus valores mais conservadores. Ora, mesmo na ultracatólica Espanha, mais de 80% dos cidadãos discordam das mudanças previstas pelo ministro gallardón.
Não é, pois, pela economia ou pela explosiva situação social, que rajoy ameaça cair, mas por uma questão de valores culturais. Terão sido eles a constituir a gota, que faz extravasar o copo já bem cheio…
Será essa a surpresa a que se arriscam passos coelho e paulo portas. Bem andam eles a preparar as notícias tendentes a fazer-nos crer na possibilidade de vivermos no melhor dos mundos possíveis e. donde não esperam, lá sairá a «bomboka» com que não contariam e os derruba. Bem podem adulterar os indicadores do desemprego, continuarem a olhar para o crescimento das exportações sem o ligarem à refinaria de Sines ou conseguirem a ajuda dos amigos da OCDE ou das agências de rating para “comprovarem” a bênção dos mercados às suas políticas, que bastará um incidente aparentemente menor para os deitar abaixo. Recorde-se cavaco com os incidentes na Ponte 25 de Abril bloqueada pelos camionistas...
É esse, afinal, o fascínio das ciências sociais: esperam-se determinadas reações coletivas a partir de pressupostos racionais e uma variável, até então insuspeita, vem alterar completamente o resultado da equação.
Explica-se, assim, que sejam pífios os prognósticos efetuados por certas instituições - sobretudo as bancárias! - que criam modelos complexos com algoritmos para se precaverem de evoluções inesperadas, que acabam, invariavelmente, a tenderem noutra direção.
Numa célebre provérbio chinês costuma notar-se que uma faísca acaba por incendiar toda a pradaria...


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