sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DOCUMENTÁRIO: «Speed» de Florian Opitz (2011)

Neste mundo em que todos estão ligados por redes sociais e onde tudo se acelera, a nossa relação com o tempo cingese frequentemente à sensação de lhe sentirmos a falta. Nunca parecemos ter tempo bastante para tudo quanto desejamos ou necessitamos fazer.
Neste documentário Florian Opitz aborda com humor e filosofia este problema. E recorda ter pressentido uma espécie de solução quando, com outro jornalista, passara algumas semanas preso na Nigéria, ambos acusados de espionagem. Na altura experimentara a sensação de ter tempo para pensar em tanta coisa, que antes lhe parecia passar ao lado.
Ao regressar à Alemanha vivera a experiência da morte do pai. Que lhe acentuara a convicção de não ser eterno.
Colocaram-se-lhe, então, algumas questões pertinentes: como recuperar a serenidade do passado? Como queremos viver de facto? Se duplicámos a nossa esperança de vida, porque temos a sensação de não termos ganho nada com isso?
É que fazemos sempre o possível por ganhar tempo. E, no entanto, no fim de contas temo-lo cada vez menos. Há que procurar a razão para a incongruência de, carregados com os nossos aparelhos eletrónicos, andarmos a correr de reunião em reunião. Sem que para as coisas verdadeiramente importantes - os amigos, a família - pareçamos ter a disponibilidade necessária. Quem está a carregar no acelerador?
Com o seu olhar subjetivo e sarcástico, Florian Opitz consegue abordar o tema complexo da aceleração do quotidiano de forma divertida e bastante curiosa a nível visual, ao partir ao encontro das pessoas, que pensa poderem-lhe dar as respostas.
Começa por ir ao encontro de Lothar Seiwart, auto-intitulado papa da gestão do tempo. Num seminário, que frequenta, ensinam-lhe a importância de estabelecer as prioridades em função dos seus projetos para o futuro. Mas isso já ele sabia de sobra.
Segue-se um terapeuta, que o interroga sobre se tem a capacidade necessária para conseguir dizer não às contínuas solicitações alheias.
Mesmo reconhecendo ter problemas em expressar essa escusa, Opitz pressupõe que o problema residirá sobretudo no facto de termos demasiada informação, demasiada comida, demasiadas coisas para consumir.
Um jornalista conta-lhe a experiência radical, que estava a concluir por esses dias: durante seis meses vivera sem recurso a qualquer computador ou telemóvel. Mas não se lhe adivinha no rosto maior felicidade por tal privação. E uma consultora de uma grande multinacional põe-lhe as coisas a quente: se quiser vencer numa sociedade hipercompetitiva o melhor é não apostar na renúncia, que o entrevistado anterior experimentara.
Num ambiente de ultracapitalismo, em que a ansia do lucro coincide com o medo em ser despedido, só o que vive muito acelerado sobrevive em detrimento dos mais lentos. Mesmo que os impactos ambientais sejam enormes.
Opitz visita então gente, que virou as costas a esse capitalismo e trocou a vida frenética das cidades por outra bem mais lenta e satisfatória: um antigo “tubarão” da Lehman Brothers empenhado num projeto de turismo rural nos Alpes, ou um antigo designer de moda que se mudara para a Patagónia chilena para devolver ao estado selvagem algumas zonas já contaminadas pela industrialização.
E existem, igualmente, os que mantém a opção pelo seu modo de vida tradicional e se dispõem a preservá-lo mesmo perante as terríveis ameaças externas: uma família de agricultores dos Alpages ou a população do pequeno reino do Butão.
Sem respostas definitivas depois do seu périplo pelo mundo, Florian Opitz só se compromete em fazer o melhor que pode por desacelerar no seu ritmo de vida. Nomeadamente para viver o crescimento do seu filho Anton. 



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