Hoje regressei ao centro de saúde da minha área de residência depois de uma longa ausência. Na mente ainda tinha a ideia de tipo de serviço, que implicava uma consulta digna desse nome com um médico atento aos meus motivos de queixa e recetivo a marcar exames esclarecedores quanto à maior ou menor gravidade de tais sintomas. Afinal em menos de três minutos estava despachado, após uma sumária auscultação do tipo faz-de-conta e uma receita para aviar na farmácia.
Anteriormente também já soubera que o serviço de urgência, que abria anteriormente da parte da tarde até quase à meia-noite, já fora encerrado em julho.
Eis, assim, a Saúde no seu esplendor tal qual a direita a implementa. Como dizia um antigo deputado do CDS, há muitos anos no parlamento, “quem quer saúde paga-a” e, por isso, a estratégia passa por desvalorizar ao máximo o tipo de prestação de serviços propiciado pelo setor público e deixar a medicina privada esmifrar ao máximo aqueles que ainda têm algum dinheiro para o entregarem a quem está a beneficiar ativamente com esta crise.
E, no entanto, volto atrás no tempo e recordo os tempos do governo Sócrates, quando bastava eliminar-se um serviço periférico de má qualidade para o substituir pela sua centralização em Centros de Saúde modernos e com meios para operar melhores diagnósticos, que tínhamos multidões agitadas por comunistas e gente da direita a insurgir-se contra o ataque aos seus direitos fundamentais. O mesmo tipo de reações, que ocorriam quando se eliminavam as muitas maternidades sem condições para privilegiar os menos numerosos, mas muito melhor equipados, estabelecimentos destinados a tal objetivo.
Era o tempo em que, de norte a sul, as populações eram demagogicamente mobilizadas para terem em cada rua um hospital e uma escola, acusando-se os socialistas de não cumprirem com essa “obrigação”.
Se se quis o oitenta, hoje estamos perante a realidade do proverbial oito sem que se verifiquem movimentos de contestação dessas pretéritas dimensões muito embora eles se justificassem muito mais do que então.
Confirma-se o quão difícil é governar Portugal quando se tem a forte coligação de interesses contrários, mas que apostam sempre na derrota de quem procura garantir uma melhor distribuição da riqueza e da implementação de modelos de maior justiça social.
Entre os que querem tudo de uma vez para o povo e os que são instrumentalizados para propiciarem esse tudo para muito poucos, gera-se um consenso perigoso, que prejudica quem tenta conciliar a arte do possível dentro dos recursos, que se vão congregando.
É por isso que existe a forte convicção de ser necessária uma forte liderança socialista para lidar com esse tipo de desafio. Porque, mesmo sabendo-se que se irão criar campanhas ignóbeis em que valerá tudo para difamar a probidade de quem a liderar, e voltando a mobilizar turbas barulhentas para voltarem a exigir aquilo que se resignaram a perder em silêncio durante esta governação da direita, será necessário virar do avesso o implementado nestes últimos dois anos e meio e retomar o projeto ambicioso de reconstruir um Portugal sem medo de se modernizar e apostar na melhor qualificação dos seus recursos humanos.
É por isso que a questão dessa liderança será de importância fundamental: se mantivermos um líder fraco como Hollande se revelou, estaremos fadados a repetir-lhe o percurso agora tragicamente demonstrado com a definitiva viragem à direita. E, mais tarde ou mais cedo, seremos substituídos pelos executores genuínos das suas políticas de direita.
Se apostarmos em quem tenha do ideal de esquerda a ambição transformadora, que sempre constituíu o seu genuíno programa, poderemos acelerar o curso da História, e sacudir de vez este moroso passo atrás por ela dado desde que reagan e thatcher criaram as condições para o fartar vilanagem deste capitalismo selvagem.
Enquanto socialista desejo uma liderança corajosa e sem medo de operar as ruturas, que o momento exige...
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