O pianista Jerry Roll Morton tocava uma musica que expressava o clima de Nova Orleães, captando a ambiência de tudo quanto observava. Ele compreendeu a subtileza do que Buddy Bolden fazia e incorporou-a na sua música.
Nascera em 1890 com o nome de Ferdinand Joseph Lamothe e costumava por isso dizer que os seus antepassados tinham vindo de França mas, na realidade era filho de uma crioula cujas origens conhecidas remontavam ao Haiti. Durante algum tempo fora criado por uma bisavó conservadora, que apreciava o formalismo e a tradição da ópera francesa. Só que o bisneto viria a ter gostos quase antagónicos.
Ainda adolescente, Ferdinand conseguiu um emprego clandestino num bordel de Storyville onde tocava piano para as prostitutas e os seus clientes. Por isso adoraria sempre passar o tempo em cabarés e boîtes, sobretudo se tinha também oportunidade para se envolver em zaragatas e cenas de facada. Mas, por outro lado, também apreciava acompanhar funerais e outros desfiles de rua.
À bisavó ia dizendo ser-lhe impossível voltar para casa à noite, porquanto arranjara emprego como guarda noturno.
Mas a bisavó de Morton acabou por descobrir onde ele trabalhava e expulsou-o de casa definitivamente.
Nos cabarés ele ficava no melhor local da casa tocando de acordo com a coreografia das prostitutas nas cabinas. E as gorjetas eram tanto mais avultadas quanto aplaudidas o seu desempenho. Ora, se inventasse algo de diferente, descobria que receberia mais dinheiro.
Em pouco tempo Jerry Roll Morton, o pseudónimo que adotara, tornou-se num brilhante pianista, conseguindo associar os ritmos do ragtime com as canções dos menestréis e com o blues, alcançando um novo estilo baseado nessa fusão e na improvisação.
Vaidoso por natureza ninguém conseguia tê-lo em mais alta conta do que ele próprio, que se designava como o «Mestre».
Anos mais tarde não hesitaria em vangloriar-se de ter sido ele o inventor do jazz. O que não era verdade, embora tenha composto músicas que estabeleceriam o padrão das composições do género e sido o primeiro a traduzir as suas obras em partituras.
Alguns dos seus temas mais dançantes incorporavam ritmos da habanera caribenha, naquilo que ele designou por “tempero hispânico”. Sem essa batida, assegurava que a receita do jazz não poderia ser considerada perfeita.
Com o tempo Morton transformou-se num artista versátil, que tocava piano, cantava e dançava. Insistindo sempre em ser chamado pelo apelido que escolhera.
À distância é inevitável reconhecer-lhe o tom erótico!
Morton esteve por toda a parte: Memphis, Chicago, Nova Iorque, Kansas City, Oklahoma e Los Angeles.
Muitas vezes para assegurar o sustento, ele caracterizava-se como se fosse negro retinto em atuações de vaudeville ou tentava a sorte em bancas de jogo. Mas também foi proxeneta e vendedor de porta em porta de uma “receita miraculosa” para a tuberculose: uma mistela de sal com coca-cola. Sempre sem abandonar o piano. Para onde quer que fosse levava a música com ele.
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