sábado, 4 de janeiro de 2014

POLÍTICA: Um Outro Mundo é Necessário!

Anunciada (porventura por exagero!) a morte do comunismo, houve quem, à esquerda, quisesse ver nos movimentos antiglobalização a alternativa para uma mais eficiente contestação ao capitalismo. É que, na sua génese, esses movimentos rejeitam a lógica do mercado, criticam as multinacionais, opõem-se ao comércio sem entraves aduaneiros e à Bolsa. Ainda que com analises exageradas, propostas utópicas e críticas radicais!
Mas, não sendo eles, como se poderá confiar no socialismo da «terceira via», apostado em se situar no centro do espectro político e em colaborar com as elites dirigentes do capitalismo internacional no acelerado programa de expansão ilimitada das mercadorias, da concorrência e da “moral monetária”? Se julgávamos morta e enterrada essa efémera ilusão, que atravessou os anos de Clinton e de Blair, aí a temos novamente experimentada por quem se prepara para liderar o Partido Democrático italiano…
E, no entanto, essa contrarrevolução, potenciada pelas novas ferramentas informáticas, fez cair, uma a uma, todas as posições conquistadas durante dois séculos de intensas lutas laborais!
Regressemos, então, aos movimentos alternativos dinamizados por antigos militantes de organizações comunistas e trotsquistas, mas  em rutura com a rigidez do marxismo, para sugerirem reflexões próximas dos socialistas utópicos, tão criticados no seu tempo pelo autor de «O Capital».
Se fosse vivo, Karl Marx não deixaria de ridicularizar e criticar com veemência muitos dos textos produzidos pelos que se inserem no espírito do Forum Social Mundial.
Tomemos-lhes três exemplos elucidativos:
1 - esses críticos do capitalismo defenderam a instauração da taxa Tobin sobre todos os movimentos de capitais, como forma de conseguir uma maior redistribuição da tão desigual riqueza das nações.
Tal estratégia keynesiana para reformar o capitalismo, sem o pôr verdadeiramente em causa, é uma rendição a ele: o que deverá nortear a contestação ao sistema vigente deverá ser a denúncia do esbulho das mais-valias resultantes da exploração de quem trabalha!
2. o idealismo ingénuo da expressão «Um Outro Mundo é Possível» terá de ser substituído, de acordo com os marxistas, por outra bem mais exigente: «Um Outro Mundo é Necessário». Em vez de federarem os «novos condenados da terra» que nada têm (emprego, terra, abrigo, papéis), os verdadeiros opositores ao capitalismo não poderão sair da lógica da contradição principal entre os que exploram e os que são explorados.
Esperar que do «lúmpen» saia uma alternativa eficaz, só serve para desbaratar esforços e ilusões, que se revelam imprescindíveis para as mais incisivas lutas entre quem, no dia-a-dia dos seus empregos nas fábricas, nos escritórios e outros locais de trabalho, é confrontado com a desigualdade cada vez mais obscena entre as elevadas remunerações de uma minoria e os salários de miséria da maioria.
3. a luta contra o capitalismo não pode ser canalizada pelos que apostam, sobretudo, no respeito pela natureza e no desenvolvimento sustentável, por muitos crimes ecológicos que resultem da lógica predadora do sistema a pôr em causa.
Uma vez mais, importa diferenciar a luta principal das que a ela se associam colateralmente. Até porque reduzir o ritmo da evolução dos meios de produção é fazer a roda da História andar para trás. Ora é com tal evolução, que se agudizam as contradições entre as forças produtivas e as condições sociais da produção. Sem a ciência e sem a indústria não é possível atingir o objetivo primordial do marxismo: uma maior igualdade, justiça e solidariedade entre quem viverá na sociedade do futuro.
Em suma: a flexibilidade intelectual e militante dos movimentos antiglobalização estão nos antípodas da coerência e consistência do pensamento marxista!


Sem comentários:

Enviar um comentário