Comprei os meus primeiros dois álbuns de Pete Seeger, numa discoteca da Baixa de Manhattan.
Estava um frio terrível nesse Natal de 1978, que tornava penosa a visita a diversas lojas antes de conseguir encontrar o que pretendia. Só à sexta ou sétima tentativa desse cirandar pela 5ª, pela 42ª ou pela Avenida das Américas batidas pelo vento gélido vindo do rio, é que fui bem sucedido. Já chegava a suspeitar da impossibilidade de encontrar obras de um cantor conotado com o mais que suspeito Partido Comunista local.
Nesse dia acompanhava-me um colega, o Américo, que pretendia dar satisfação a gosto mais prosaico: o sucesso do momento, que era a banda sonora do filme «Saturday Night Fever». E que encontrou logo à primeira tentativa.
Recordo o quanto tremeliquei no regresso a bordo, apanhando o ferry para o lado de Staten, e o catraeiro que nos devolveu ao portaló do «Inago».
Sentia-me, então, em tal estado hipotérmico que preferi descer à Casa das Caldeiras em vez de subir ao camarote: quase encostado aos queimadores das fornalhas tratei de recuperar o calor perdido naquela busca.
Mas daí a um par de horas, depois do jantar na messe, tive a compensação de pôr os discos a tocar, fazendo-os ecoar pelos corredores de todo o casario à ré. O tema mais empolgante chamava-se «We Shall Overcome» e dava um suplemento de alma a quem andava descoroçoado com o rumo da Revolução de Abril e continuava a querer acreditar na exequibilidade da Utopia para o curto prazo. E todos quantos ali se sentavam naquele camarote, a beberem um whisky e a falarem das suas aspirações e inquietações, comungavam dessa esperança em como haveremos de lá chegar!
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