sábado, 22 de fevereiro de 2014

POLÍTICA: uivam as hienas em Kiev!

O que se está a passar na Ucrânia, por muito que a Casa Branca e Bruxelas tentem fazer crer o contrário, está longe de constituir uma revolução democrática. Houve muito povo a apoiar os golpistas, mas torna-se cada vez mais evidente o facto de nem sequer os líderes dos dois principais partidos da Oposição - que estabeleceram acordos com o Presidente Ianukovich - terem conseguido controlar a infiltração de extrema-direita responsável pelas sucessivas sabotagens lançadas às possibilidades de uma transição pacífica para algo de mais democrático.
O que triunfou em Kiev durante este fim-de-semana foi um golpe de Estado contra um Presidente e um Parlamento eleitos de acordo com as regras internacionalmente aceites como legítimas.
Tivesse a multidão do dia 15 de setembro de 2012 - que invadiu Lisboa para contestar a TSU do governo - invadido São Bento e obrigado passos coelho a fugir e não faltariam condenações internacionais contra uma clara violação das regras democráticas.
Agora, decerto que Barack Obama ou durão barroso não opinarão da mesma maneira sobre o sucedido na Ucrânia e que a liga ao período vergonhoso da sua História em que se aliou a Hitler para combater o Exército Vermelho soviético.
E, no entanto, já há estátuas de Lenine derrubadas, proibições ao Partido Comunista ou apelos de rabis a apelarem à fuga dos judeus para escaparem às fortes suspeitas de existirem progroms a caminho.
É claro que, nos próximos dias, Yulia Timoshenko tentará cavalgar o movimento, valendo-se da vitimização de ter estado presa nos últimos anos. E que os oligarcas, tão lestamente dissociados de Ianukovich como forma de preservarem as fortunas acumuladas com as golpadas perpetradas na sequência da independência e das privatizações das antigas empresas públicas, tudo farão para domarem as feras, que se soltaram nos últimos dias. Mas consegui-lo-ão?
Para nós que, à distância, somos observadores atentos do  que se irá passar na outra ponta da Europa surgem expetativas quanto a um conjunto de questões a tornarem-se relevantes nos dias que se seguem:
(1) como reagirá a Ucrânia Oriental a este golpe de Estado, sabendo-se que se situam aí a maioria dos apoiantes do Partido de Ianukovich? Avançarão para uma secessão? E, caso isso ocorra, será de forma pacífica ou replicando o sucedido na antiga Jugoslávia?
(2) como reagirá a Rússia de Putin, sabendo-se quanto depende a Ucrânia do seu gás e combustível  para se aquecer e fazer funcionar a sua indústria? E para que mercados alternativos poderão os ucranianos exportar os seus produtos industriais que eram até aqui encaminhados para a mesma Rússia?
(3) Na mesma lógica como é que a mesma Rússia poderá reagir ao perigo em que se encontra a base naval onde concentra a sua frota para o Mediterrâneo, dado ela se encontrar sedeada na Crimeia ucraniana?
(4) como reagirá a União Europeia depois de ter ajudado a atear o fogo e para quem os ucranianos se virarão a procurarem urgentemente os apoios financeiros, que a Rússia já suspendeu?  Facilitará empréstimos a fundo perdido, que tem negado sistematicamente aos seus membros em dificuldades?
(5) como acabará o terrível confronto que se adivinha entre todas estas forças de oposição, que conjugaram forças para derrubar Ianukovich, mas com tantas contradições entre si, que se adivinhará algo parecido com um saco de gatos eriçados?
(6) E como reagirá o povo tão manipulado nestas semanas e depressa confrontado com a realidade de não poder contar com os paraísos sonhados já ao virar da esquina?
Para quem se interessa pela política, estamos perante um verdadeiro case study, com matéria suficiente para nos prender a atenção por muito tempo.
O que se pode temer é que - a exemplo do sucedido nos Balcãs e em toda a extensão da antiga União Soviética, depois do reboliço decorrente da queda do muro de Berlim - será presumível ainda estarmos no início de uma contagem de vítimas mortais, com tendência para se avolumarem nas próximas semanas.


Sem comentários:

Enviar um comentário