Como um cometa errante, que volta a passar pela nossa órbita antes de desaparecer de vez no vazio espacial, vítor gaspar está aí nos jornais e nas livrarias a propósito do livro-entrevista que coassina com maria joão avillez,
Se obviamente não se justifica gastar um cêntimo com o livro em causa, já a entrevista a Teresa de Sousa na edição do «Público» merece melhor atenção, porque confirma fundamentalmente três ilações já antes dele colhidas:
· o autoconvencimento de estar a cumprir um papel messiânico, como se não tivesse restado outra alternativa ao país, que não fosse o de se abandonar aos ditames da troika;
· a incapacidade de alargar os parâmetros em que age noutro esquema de pensamento, que não passe pela lógica capitalista de cariz estritamente neoliberal, mas em que se ignora o papel desempenhado pelo capital especulativo;;
· a cegueira perante os efeitos dos seus atos, que o leva a expressar conclusões tão absurdas para quem o vê de fora, como a de ver como insultuosa a sua qualificação de quarto membro da troika, porquanto ter-se-á sentido hábil negociador capaz de ter sempre presentes a minimização das consequências sociais da sua estratégia.
Outro Gaspar, mas chamado Miguel e jornalista do mesmo jornal, constata com sagacidade: Gaspar, o economista, é um pouco um economista imaterial; responde como um filósofo racionalista, sem impulsos e procurando argumentações racionais perfeitas e irrefutáveis. Do alto desse edifício, seguro por convicções inabaláveis, o que mais teme é o imprevisível. Sabe que pensar implica compreender onde estão os limites do conhecimento. O que receia é o que está para lá dessa fronteira.
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