terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

POLÍTICA: Vai faltar o peixe nos nossos pratos?

Estaremos a viver o fim de uma época em que o peixe ainda é relativamente abundante? O crescimento exponencial da atividade piscatória está a comportar consequências terríveis, quer para os ecossistemas, quer para as populações.
«La fin du poisson à foison?» (2014) é um documentário de Jutta Pinzler e Mieke Otte sobre esta realidade e sobre a vertente mais obscura desta indústria globalizada.
No Mediterrâneo 90% dos bancos de pesca estão em vias de extinção e no nordeste do Atlântico já chegam aos 40%.
Os sistemas de quotas ou de subsídios aprovados pela União Europeia contribuem para essa situação como o reconhece a comissária Maria Damanaki, que lidera esta pasta na Comissão. Apostada em evitar a sobre-exploração de recursos piscícolas ela defende uma reforma profunda no que tem sido feito até aqui, mas não é verdade que, hoje em dia, a grande maioria do peixe consumido na Europa vem da Ásia ou da África?
As Organizações Não Governamentais denunciam as condições deploráveis das instalações de aquacultura nos países em vias de desenvolvimento.
Na costa ocidental de África, a pesca ilegal é tão intensa, que privam as populações locais dos seus recursos, pondo em causa a sua sobrevivência, já que, mesmo quando encontram emprego nos arrastões estrangeiros, é para viverem em condições de semiescravatura.
Fazendo a análise desde que o peixe está no mar até que chega ao prato, esta investigação desvenda a face sombria de uma indústria a soldo de multinacionais, que desprezam os efeitos desastrosos da sua ganância.
Outro documentário sobre este mesmo assunto, «Heureux comme un poisson dans l’eau» (2014) de Frank Diederichs interroga os nossos hábitos enquanto consumidores. Porque a questão é esta mesma: existirão ainda processos sustentáveis de pesca?
Para a Food and Agriculture Organization (FAO) a maioria das espécies piscícolas selvagens estão sobre exploradas, ameaçadas de extinção ou capturadas mediante processos, que põem em risco os ecossistemas e os fundos marinhos.
Para contornarem as críticas os produtores apostam cada vez mais na aquacultura, que já fornece metade do peixe consumido a nível mundial. Mas esta solução não se revela menos nociva!
No Chile, um dos principais exportadores mundiais de salmões, não conseguem iludir uma realidade inquietante: os peixes estão contaminados com antibióticos e corantes ao mesmo tempo que são alimentados com farinhas à base de espécies selvagens já ameaçadas pela captura excessiva. Ademais há que contar com o efeito poluidor nas águas do Oceano Pacífico.
Em alternativa, alguns consumidores apostam no setor biológico, mas as marcas em causa não conseguem ainda garantir uma aquacultura transparente e sustentável para o ambiente.
Sendo os portugueses um dos povos com maior consumo de peixe per capita a nível mundial, não poderão continuar a ignorar esta reflexão quanto ao que será o setor da pesca num futuro a curto e médio prazo.


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