Para quem tem uma perspetiva de esquerda sobre a realidade política europeia a chegada de Matteo Renzi à liderança do governo italiano só pode significar mais um compasso de espera até que essa área política transalpina consiga encontrar alguém verdadeiramente mobilizador e capaz de operar a urgente desberlusconização e desgrillização do país. Com o ainda presidente da câmara de Florença teremos uma remake da célebre cena do filme de Nanni Moretti em que ele se insurge contra a imagem televisiva do então líder da esquerda, Massimo d’Alema, e desespera de não o ver a proferir algo de verdadeiramente de esquerda.
Matteo Renzi é mais um exemplo típico do arrivismo sem princípios, que se alcandorou ao topo da hierarquia do principal político de esquerda do seu país sem mostrar visão, nem cultura e não será capaz de operar qualquer transformação progressista da sua economia. Produto tardio da Terceira Via ele defende que a austeridade é necessária e que a senhora Merkel nada tem de criticável.
Depois da desilusão advinda da prática de François Hollande desde que foi eleito e que nada de bom trouxe para a generalidade dos europeus, de Matteo Renzi nem sequer dá para alimentar o mais ínfimo devaneio utópico.
Mas já que veio a talhe de foice o presidente francês ele teve agora um bom exemplo do que ocorre normalmente, quando a esquerda quer seduzir os patrões e fazer-se por eles aceitar: na sua visita a Washington, um dos convidados que Hollande levou na comitiva foi Pierre Gattaz, o presidente dos grandes patrões franceses.
Ora, Hollande julgaria ter um companheiro de viagem cooperante para com as suas políticas, já que nenhum presidente de direita dera tanto aos patrões quanto o governo socialista acabou de lhes oferecer em nome da necessidade de corrigir a rota dos indicadores do desemprego. Até porque existe uma ética, que leva um convidado presidencial a nunca aproveitar uma visita de Estado para criticar quem o levou. O que não aconteceu: tão-só chegado ao outro lado do Atlântico, Gattaz pôs-se a criticar o acordo que assinara, demonstrando a regra segundo a qual qualquer patrão mimoseado pela esquerda deixará alguma vez de ser o escorpião decidido a mordê-la mortalmente logo que puder.
A realidade europeia da luta de classes não se compadece com esta forma de se ser formalmente «socialista». Mais do que parecer ou anunciar-se sê-lo, importa que a esquerda volte a apostar na assumpção dos seus princípios identitários. Trabalhando ativa e eficazmente por uma maior igualdade e justiça social...
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