A estátua da Liberdade foi, pois, inaugurada oficialmente a 28 de outubro de 1886, sendo festejada por um milhão de nova-iorquinos na Broadway, que agradeceram a prenda da República Francesa à nação americana.
Ainda assim, em vez do momento de comunhão esperado, a cerimónia desenrolada na ilhota de Bedloe é marcada por umas quantas perturbações: uma manifestação de sufragistas, um forte aguaceiro, o descerrar da bandeira a meio do discurso inaugural. Mas, sobretudo, foi um acontecimento histórico, que nenhum fotografo pensou imortalizar. Como se tais incidentes fossem o corolário mais lógico dos vinte anos em que o projeto e construção da estátua se transformou numa tormentosa odisseia.
Ainda antes de se tornar no farol do Novo Mundo para milhões de imigrantes vindos da Europa em busca de uma vida melhor, a estátua da Liberdade foi o louco projeto do escultor visionário Auguste Bartholdi.
Através de entrevistas a historiadores, a fotografias de arquivos e de cenas ficcionadas a ilustrarem os episódios mais marcantes da sua conceção, o realizador retrata a desconhecida história daquela que os americanos designam como Lady Liberty, e retoma o destino incomum do seu criador. Imaginada pelo homem político Édouard de Laboulaye, fervoroso admirador da democracia americana, a ideia de uma estátua a celebrar a amizade franco-americana foi evocada pela primeira vez em 1865, durante um jantar de homenagem ao presidente Lincoln, assassinado seis dias antes.
Um projeto subversivo na França autoritária do Segundo Império, que Bartholdi e Laboulaye não poderão revelar senão depois do voto da Constituição da III República em setembro de 1875. A partir dessa data, Bartholdi não deixará de promover aquela que será a obra-prima da sua vida, incentivando políticos e homens de negócios para a financiarem.
Os trabalhos começam nos estaleiros de Gaget e Gauthier, na rua de Chazelle, no 17º Bairro de Paris. Em simultâneo, Édouard de Laboulaye funda o comité da União franco-americana encarregue da coleta de fundos, que depressa recolhe 400 mil francos.
Mas depressa o projeto perde velocidade devido aos problemas técnicos na sua execução e o escultor acaba por pôr de lado a possibilidade de inaugurar a estátua nas comemorações do centenário da independência americana. Ainda assim consegue fazer chegar a mão a segurar a chama à Exposição Universal de Filadélfia dois meses depois das festas do 4 de julho de 1876.
Bartholdi vende bilhetes de 50 cêntimos para quem visite essa atração palpitante da exposição. Um golpe de génio publicitário, a par de uma incansável tenacidade, que lhe permite alcançar o apoio das mais ilustres personalidades dos dois lados do Atlântico.
Gustave Eiffel concebe a sua armação em aço; Ferdinand de Lesseps, na liderança da União franco-americana, consegue ir recolhendo os fundos necessários à obra; o presidente Grant oferece o terreno da ilha de Bedloe; Joseph Pulitzer, chefe de redação do «New York World», lança uma campanha jornalística para acelerar o financiamento do pedestal a cargo dos americanos. E até Victor Hugo não se exime de ir dar a sua bênção republicana durante uma visita aos estaleiros Gaget.
Graças aos prestigiados padrinhos, A Liberdade a Iluminar o Mundo começa por ser apresentada aos céus parisienses a 4 de julho de 1884.
225 toneladas para 46 metros de altura e uma cabeça com cinco metros: a estátua de Bartholdi é a maior até então realizada.
O projeto só será concluído dois anos depois com a travessia do Atlântico em peças desmontadas e a construção do pedestal da estátua.
Dominando a baía de Nova Iorque, a colossal lady ganha a nacionalidade americana, tornando-se no símbolo da Grande Maçã e o ícone universal da Liberdade.
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