sábado, 8 de fevereiro de 2014

FILME: «As férias prolongadas» de Johan van der Keuken (2000)

Em 15 de outubro de 1998  o realizador telefonou de Paris para o Prof. Battermann, um médico de radioterapia de Utrecht, que lhe fizera alguns exames médicos. Ficou assim a saber que o tumor na próstata aumentara a pressagiar um encurtamento inevitável da vida remanescente.
Nosh, que compartilha a sua vida há trinta anos, propõe-lhe então umas férias prolongadas. O filme será a tradução, em imagens e sons, dessa viagem.
A primeira escala será Katmandu onde ele vai visitar um lama: Trulshik Rimpotché. A quem interroga sobre como se pode viver com o sofrimento e a perspetiva da morte. Ele recomenda-lhe que investigue os atos negativos acumulados nesse karma e que estão na origem dessas dores. Pelas orações poderá evitar o sofrimento nas suas vidas futuras.
O projeto de van der Keuken é o de elaborar um caderno de viagem ao jeito dos antigos viajantes, mas optando pela pequena câmara digital em vez da linguagem escrita.
No Butão filma as crianças e constata uma governação teocrática, que tenta sobreviver entre duas grandes potências, a China e a Índia, qualquer delas com um passado recente de expansionismo na região. A primeira ocupando o Tibete e a segunda o Sikkim.
Enquanto se deslocam num pequeno autocarro pelas estradas sinuosas das faldas dos Himalaias, Keuken anota a austeridade da paisagem onde o homem é apenas uma mera contingência.
Nos dias seguintes continuam a visitar sucessivos mosteiros budistas e a assistir às suas cerimónias. Pelo meio a luminosa Noshka faz 59 anos.
Keuken consulta um especialista num Centro de Medicina Tradicional, mas ele nem sequer sabe o que é a próstata e até o considera de muito boa saúde.
No regresso à Europa mostra os objetos, que foi acumulando ao longo da vida - mormente uma reprodução de Paul Klee, que muito lhe agrada - mas sabe condenados a virem a ser dispersos, destruídos num futuro não muito distante. E visita o Prof. Batterman, que fala para ele com a câmara de permeio. Sem rodeios, doente e médico falam com honestidade de um tumor, que já está a definir uma contagem decrescente cada vez mais rápida para o óbvio desenlace.
Com o teste do PSA a subir de forma alarmante, Keuken e Nosh partem para o Burkina Faso, o “país dos homens íntegros”.
Saindo rapidamente da capital para norte, em direção ao Sahel, o projeto consistirá em ver as dificuldades de subsistência das populações a viverem em pleno deserto. Uma terra onde a água só pode ser obtida de poços profundos para matar a sede ao gado muito magro.
 Depois de captar muitos rostos de crianças, que dizem os seus nomes para a câmara, Keuken regista o testemunho de um velho que, à volta da fogueira, conta as muitas guerras em que participou.
Nas margens do Níger, o filme mostra as mulheres malianas a cantar enquanto à volta se desenvolvem todas as atividades, que fazem do rio a artéria vital da região com o seu comércio, pesca, ponto de passagem de gado em transumância, etc.
No regresso à Europa, o casal Keuken tem uma mensagem telefónica de uma amiga nepalesa, Lhamo, que teria recebido sinais da deusa em como o poderia curar. Razão para regressarem a Katmandou e tentarem a solução miraculosa proposta pela amiga, que costuma contactar em transe com essa inspiração divina.
Resultado da consulta: Johan terá algumas células nervosas, mas não muitas. A curandeira dá-lo como curado depois do seu tratamento, mas, dentro de si, sente as células numa tremenda e caótica azáfama.
A medicina tibetana parece ter alguma ação no tumor, já que os resultados seguintes indiciam uma evolução mais lenta do PSA. Ainda que aumentando…
Por isso, enquanto pode, Keuken viaja para divulgar os seus filmes nas várias latitudes. O Brasil é a escala seguinte, aproveitando para visitar o mundo das favelas e voar de parapente sobre elas. E São Francisco em cujo Festival Internacional é homenageado.
Mas o estado físico degrada-se e ele terá de regressar rapidamente à Europa para pedir mais seis meses de vida ao Professor Battermann para acabar o filme e deixar as coisas em ordem. A solução parece residir numa hormonoterapia, que o deixará impotente sexualmente.
Em Nova Iorque contacta outro médico indicado por alguns amigos, que lhe dá esperanças com um novo tratamento agressivo do tumor. Mas o fim aproxima-se, inexorável!


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