André Gorz foi um dos grandes intelectuais franceses na época em que Sartre, Althusser, Foucault ou Lévi-Strauss faziam acreditar na afirmação da inteligência no espaço público.
Enquanto figuras mediáticas eram mestres pensadores, que arrastavam discípulos e prometiam revoluções não só sociais, mas também ao nível da transformação dos valores e costumes ainda então vigentes numa sociedade demasiado marcada pela influência preconceituosa de um catolicismo asfixiante.
Quem olhasse para esses anos 60 ou 70, pré ou pós a Revolução de maio de 1968, poucos acreditariam na possibilidade de uma França novamente seduzida pela extrema-direita nesta segunda década do novo milénio.
Como co-fundador do Nouvel Observateur, Gorz muito contribuiu para o advento dos anos Mitterrand, mesmo comportando eles a desilusão de não terem correspondido ao cumprimento dos sonhos neles investidos.
Mas Gorz também viveu uma belíssima história de amor com a sua companheira de mais de meio século de conjugalidade idílica. E com quem se suicidaria em setembro de 2007, quando a idade e a doença já não lhes permitia usufruírem a magia de cada novo dia partilhado.
A carta a D, agora traduzida para português por Rui Caeiro, constitui um belo exemplo de como ainda são possíveis as histórias de amor absoluto.
Escrita no ano anterior ao desenlace definitivo escolhido pelo casal para pôr um simultâneo ponto final nas suas biografias, também ilustra bem o tipo de personalidade ímpar, que era a do seu autor.
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