domingo, 16 de fevereiro de 2014

POLÍTICA: Por onde anda a célebre “retoma”?

No debate de sexta-feira na Assembleia, passos afiançou nunca ter falado de «milagre económico», mas não se privou de enfatizar a «retoma» por que passa a economia portuguesa e demonstrada nos números provisórios, que o INE tratou de, oportunamente (decerto por mera «coincidência» como tratou de referir ironicamente a jornalista da SIC Anabela Neves), publicar ao fim da madrugada desse dia de confronto parlamentar do governo com a oposição.
Mas de que «retoma» estamos a falar?
· Segundo os números do Instituto Nacional de Estatística o PIB cresceu 0,5% nos últimos três meses do ano passado face ao trimestre imediatamente anterior.
· Mas os mesmos indicadores mostram que, no total de 2013, registou-se ainda uma quebra do PIB de 1,4%. Ou seja, pela primeira vez em quatro décadas, o PIB caiu em três anos consecutivos.
· Ainda segundo a mesma fonte a aparente retoma foi suscitada em larga medida pela recuperação da procura interna, só possível graças à decisão do Tribunal Constitucional sobre o direito constitucional dos funcionários públicos e dos reformados a receberem um dos subsídios de que tinham sido espoliados no ano anterior. O consumo privado já não conhecia uma aceleração desde o final de 2010.
· Muito embora deem um grande enfoque às exportações, os ministros da coligação psd/cds não podem negar a tendência de desaceleração nelas verificada, depois do sinal falso facultado pelo início da exploração da nova refinaria de Sines: assim, a contribuição da procura externa (que resulta do diferencial entre as exportações e as importações) passou de 2% no primeiro trimestre do ano para apenas 0,6% no final de setembro.
Analista respeitado de todo este enquadramento económico o professor José Reis, afirmou ao «Público» que “é muito provável que estejamos perante um quadro geral de estagnação ou de crescimento pontual medíocre, sucessivamente anulado por evoluções negativas da mesma natureza”. Isto porque “não parece que a redução do peso da dívida, a qualificação e plena vigência de um sistema de emprego inclusivo e a presença de dinâmicas produtivas geradoras de fortes efeitos positivos agregados estejam sob perspetivas animadoras”.
Quer isto dizer que, para tal economista, em vez de “retoma”, o governo poderá quanto muito vangloriar-se de uma estagnação, que nunca conseguirá resolver o problema suscitado pela atual dimensão da dívida soberana.


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